Confrontos

Beltrame vê ‘pré-disposição’ eleitoral em ataques no Rio

O secretário estadual de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou que pode haver uma “pré-disposição” eleitoral nos confrontos nas comunidades pacificadas ou em processo de pacificação, iniciados na noite desta terça-feira, 30. Até a manhã desta quinta-feira, 2, foram pelo menos cinco mortes em tiroteios em oito favelas nas zonas norte e sul.

“Acho que há uma pré-disposição (eleitoral para os confrontos), mas estamos com muita gente do serviço de inteligência nas ruas e estamos procurando antecipar (as ações policiais) como já antecipamos muitas outras”, disse o secretário. “Esse é um movimento do tráfico no sentido de desmoralizar totalmente o trabalho de pacificação. Quem sabe pretendendo que esse processo não continue porque isso, não tenho dúvida nenhuma, é uma demonstração de que prejuízos estão acontecendo a esses marginais.”

Beltrame lembrou que, em 2007, quando anunciou a transferência de 40 presos para presídios federais, “seis pessoas barbarizaram a cidade” após traficantes ordenarem que ônibus fossem incendiados, incluindo um com pessoas dentro, e delegacias fossem metralhadas. Em 2010, às vésperas das eleições que reelegeram o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), os bandidos coordenaram incêndios em diversos pontos da cidade.

“O Rio de Janeiro viveu dias muito piores. A cidade tem razão em pedir paz, mas a situação hoje é muito melhor do que era. O que o Rio assistiu ontem acontece há 20 anos e nada foi feito. Nós estamos fazendo, estamos avançado e ocupando as áreas”, declarou Beltrame.

Pela manhã, o secretário se reuniu com o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e a cúpula de segurança para tratar sobre os últimos ataques de traficantes em favelas pacificadas e em processo de pacificação. Também falaram sobre a antecipação do policiamento para as eleições que começará nesta sexta-feira, 3.

Niterói

O secretário afirmou que o incêndio a um ônibus em Icaraí, bairro de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, foi orquestrado pelo ex-chefe do tráfico do Morro do Cavalão, Reinaldo Medeiros Inácio, conhecido como Cadar. Ele está detido no Presídio Bangu 3. Ainda nesta quinta-feira, Beltrame pedirá a transferência dele para um presídio federal.

Segundo a Polícia Militar, 15 menores de idade incendiaram o veículo em uma reação de traficantes a uma operação policial na terça-feira, 30, quando dois adolescentes morreram e dois homens foram presos. A favela possui uma Companhia Destacada da PM.

As demais ações foram isoladas, segundo o secretário. “A partir de amanhã temos ações planejadas visando as eleições e acho que isso vai contribuir muito para a diminuição e o controle dessas ações. Estamos acompanhando e trabalhamos dentro da nossa limitação legislativa para o momento”.

De acordo com a legislação, cinco dias antes das eleições só pode haver prisões em casos de flagrante, homicídios ou roubos.

Alemão

No Complexo do Alemão, Adriano de Souza da Silva, de 20 anos, morreu após confronto com agentes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em uma localidade conhecida como Beco do Sabino. Com ele, os PMs encontraram uma pistola calibre 9 milímetros.

Um homem de 22 anos foi ferido e está internado no Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, na zona oeste. No Beco, foi encontrada uma mochila com um rádio transmissor, 14 trouxinhas de maconha, 176 papelotes de cocaína, 70 pedras de crack e 41 frascos de cheirinho da loló.

Maré

Já no Complexo da Maré, que está ocupado pelas Forças de Pacificação formadas por Exército, Marinha e Polícia Militar, há confrontos desde terça-feira.

“Na Maré em função das três facções criminosas (Terceiro Comando Puro – TCP -, Amigo dos Amigos – ADA – e Comando Vermelho – CV -, que dominam as favelas) existirem ali, está havendo uma dissidência entre eles, com traficantes que tentam vir de outros lugares”.

Desde o dia 20, traficantes da facção ADA tentam tomar territórios que são dominados pelo TCP. Na terça-feira, um jovem de aproximadamente 18 anos morreu no Conjunto Esperança. Na quarta-feira, pelo menos oito traficantes armados com pistolas e fuzis invadiram uma empresa de logística na Avenida Brasil, três foram presos por policiais da UPP do Caju.

Segundo a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), os traficantes seriam do Morro da Pedreira, em Costa Barros, e estariam abrigados no Complexo do Caju para ajudar na invasão da Maré.

Penha

No Parque Proletário, uma das favelas do Complexo da Penha, um homem morreu com um tiro no peito. Policias disseram que encontraram uma arma e uma granada com ele. Na Vila Cruzeiro, segundo o secretário, o traficante identificado apenas como Peru morreu durante operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope).

Zona norte

No Morro da Formiga, uma blitz de mototaxistas terminou em confusão, com um ônibus e uma viatura da PM apedrejada. No Morro da Mangueira, houve dois confrontos: em um local conhecido como Rinha, perto de uma área de mata, e na Prata. Segundo a CPP “em ambos os casos, não teve disparo feito por policial”. O policiamento segue reforçado em ambas as favelas.

Zona sul

Na Favela da Rocinha, na zona sul, houve tiroteio em uma localidade conhecida como Vila Verde. Na Ladeira dos Tabajaras, também na zona sul, o policiamento está reforçado com apoio do Batalhão de Ações com Cães, Grupamento Aeromóvel, Grupamento de Intervenções Táticas e um helicóptero desde a manhã de quarta-feira.

Policiais investigam informações sobre presença de traficantes da Rocinha e do Vidigal, além de armas e drogas na favela.

Reforço

“Não vai haver recuo (no processo de pacificação) porque temos resultados que mostram que mesmo o dia de ontem (quarta-feira, 1º) foi muito melhor do que há 8, 10 anos atrás. Já diminuímos essas questões (confrontos entre facções rivais) que eram regulares no Rio, mas é uma cidade muito grande, muito densa, um lugar onde tem ideologia de facção, que vive de domínio territorial e essa luta não é pequena”, analisou o secretário.

“Vocês nunca vão me ver cantar vantagem em relação à segurança, mas a resposta que temos que dar é racional, pensada, não uma resposta a base de tiro e de entrar de maneira inopinada em qualquer lugar”, afirmou Beltrame.

O secretário afirmou que não há necessidade de pedir reforço para a Força Nacional, já que, para ele, as polícias estaduais têm um feito um bom trabalho. “No período pós-eleitoral temos operações já planejadas e prisões podem ser feitas.”