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Atoleiro na BR-163 traz grandes perdas para exportadores

Foto: Reprodução/TV Globo

Chuvas fortes e atoleiros no trecho não asfaltado da BR-163 estão impedindo que a soja chegue aos portos do Norte do País, o que resulta em prejuízos de US$ 400 mil ao dia, com a impossibilidade de embarcar o produto, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

Os 178 quilômetros da rodovia sem pavimentação, entre Sinop (MT) e Itaituba (PA), estão, de acordo com a Abiove, com sérios problemas para o tráfego. Isso resulta em longas filas de caminhões que transportam a soja de Mato Grosso, numa nova rota de exportação do País que ganhou força com a implantação de portos no Norte, recentemente.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, já havia dito que a exportação pelo chamado Arco Norte ficará abaixo da expectativa, com as empresas remanejando as cargas para os portos do Sul e Sudeste.

As chuvas reduziram a capacidade de tráfego da rodovia de 800 para 100 caminhões por dia e, desde meados de fevereiro, já não chegam caminhões nos terminais fluviais de Miritituba (PA), onde a soja é repassada para barcaças, que seguem pelo Rio Tapajós para alcançar portos fluviais no Rio Amazonas. De lá, os terminais despacham o produto para exportação em navios graneleiros.

Em Miritituba, as empresas não recebem soja desde sábado retrasado, informou o gerente de economia da Abiove, Daniel Furlan Amaral. “Os embarques pararam desde então, pois só chegam caminhões rebocados, ou seja, volumes insignificantes por dia. Mesmo com a elevação dos preços de fretes, as empresas transportadoras se recusam a pegar mais cargas para esse destino”, disse.

Isso acaba tendo uma reação em cadeia no Brasil, atingindo o escoamento no maior exportador global de soja, onde as empresas de comércio exterior estão sendo pressionadas por lentas vendas de agricultores.

Para cada dia em que os portos ficam impedidos de embarcar mercadorias, pela falta do produto represado na BR-163, o prejuízo para as empresas é de US$ 400 mil, considerando os chamados custos de elevação e a sobre-estadia do navio, segundo cálculos da Abiove e da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).

De acordo com a Abiove, além desse ônus, há prejuízos incalculáveis com descumprimento de contratos, riscos financeiros com produtores e armazéns e, sem dúvida, riscos para a imagem do País.

Amaral, da Abiove, disse que seria possível remanejar cargas para os portos do Sul, como comentou o ministro da Agricultura. Mas ele ponderou que os custos são elevados e as operações muitas vezes são inviáveis. Isso porque envolvem reprogramação dos embarques rodoviários e ferroviários e do recebimento nos portos. Também a oferta de caminhões é restrita.

Pressão

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Foto: Reprodução/TV Globo

As chuvas que tornam problemático o tráfego na rodovia limitaram o ritmo da colheita em Mato Grosso, maior produtor de soja do País. Mas, como os trabalhos começaram adiantados este ano, mesmo com as chuvas, a área colhida é maior que no mesmo período do ano passado. Até agora foram colhidos 66% da área plantada, o que aumenta a pressão para o escoamento da safra.

A Abiove e a Anec estimam que nesta safra poderiam ser embarcados pelos terminais de Miritituba e Santarém (PA) cerca de 7 milhões de toneladas de soja e milho. Há caminhoneiros que levam 14 dias para transportar o grão em um percurso de mil quilômetros. Nesse período, teria sido possível ir e voltar a Santos (SP) ou Paranaguá (PR), os principais portos do País.

Governo diz que houve desbloqueio parcial da estrada

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Foto: Reprodução/TV Globo

O tráfego na BR-163, interrompido em diversos trechos não asfaltados no Pará por causa das chuvas, foi parcialmente desbloqueado ontem, informou em nota o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil. A pista no sentido Sul (para o Mato Grosso) foi liberada na madrugada de terça-feira e a expectativa é que o tráfego seja liberado totalmente até sexta-feira, caso as condições meteorológicas sejam favoráveis.

Os trabalhos se concentram num trecho de 37 km entre as comunidades de Santa Luzia e Bela Vista do Caracol. As equipes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) trabalham com apoio do Exército e da Polícia Rodoviária Federal. Elas cooperam, por exemplo, para desfazer as filas duplas de caminhões e permitir a passagem das equipes de manutenção.

O transporte de soja pela rodovia, principal atividade afetada pela condição da estrada, será discutido na quinta-feira pelo ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella, com um grupo de tradings (Amaggi, ADM, Cargill, Bunge e Cofco).