Após uma semana tensa, internos do Caje acenam com bandeiras brancas

As poucas mulheres que visitaram os filhos no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje) em Brasília, neste sábado (6), viram, ao deixar o prédio, o tremular de camisas brancas através das grades da ala 7, uma das mais problemáticas da unidade de internação de menores infratores. “Eles estão pedindo paz”, destacou uma das mães.

Pelos relatos de quem entrou no Caje nesta manhã, a paz foi tudo o que não houve na unidade nesta semana tumultuada. “Há muitos meninos na ala 7 machucados. Tem menino com dedo quebrado e muitos com marcas no rosto”, disse um dos visitantes.

Integrantes da Pastoral Carcerária evitaram confirmar se há menores com sinais de tortura, mas manifestaram preocupação com o que viram durante a visita.

“É necessário que as autoridades responsáveis pela proteção do menor, que promotores da Vara de Infância e da Juventude e defensores de Direitos Humanos entrem na unidade para verificar a situação dos internos. O Caje passou por uma semana tumultuada e até o momento ninguém veio conversar com os menores. É preciso que eles avaliem se a situação atual é normal”, disse um dos agentes da Pastoral Carcerária ao sair do Caje.

A mãe de um dos internos da ala 9 não conseguiu entregar ao filho os biscoitos que havia comprado. Segundo ela, alguns meninos estão de castigo e por isso têm autorização para receber as compras. Além disso, ela disse que também foi castigada, pois ficou apenas dois minutos perto do filho.

O risco do clima de tensão contaminar outras áreas da unidade é grande, de acordo com as informações passadas pela irmã de um interno da ala 1, considerada a mais calma do presídio. Ela informou que ali houve até queima de colchões no pátio. “Eles queimaram colchões em apoio aos colegas das outras alas”, disse.

De acordo com o a Pastoral Carcerária, os internos estão em pânico depois da morte de um adolescente de 16 anos, ocorrida na última terça-feira. O fato gerou forte desequilíbrio emocional nos internos, o que torna mais necessária a presença no local das autoridades e dos organismos responsáveis pela proteção do menor para constatar o clima no ambiente.

Na última terça-feira, A.L.A.S, de 16 anos, foi enforcado com uma toalha, supostamente por três dos quatro colegas de quarto no Caje. Ele aguardava o julgamento da Vara da Infância e da Juventude (VIJ) e havia dito à avó, a dona-de-casa Maria Dornelas, 52 anos, que já tinha sido ameaçado por outros internos.

Na manhã de quinta-feira, teria ocorrido uma briga na ala 7, que a abriga 32 menores infratores. Eles chegaram a render um dos colegas de quarto e usavam uma faca improvisada. A polícia teve que intervir para controlar o tumulto. Também na quinta-feria, no início da tarde, houve confusão na ala feminina provisória, que acomoda 21 meninas.