A CEG, companhia responsável pela rede de gás encanado no Rio de Janeiro, informou nesta segunda-feira, 19, que a pizzaria Dell’Arco e o restaurante Ipueiras, destruídos por uma explosão, nesta madrugada, em São Cristóvão (zona norte), não eram clientes da empresa.

continua após a publicidade

Os dois estabelecimentos usavam cilindros de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), embora na região esteja instalada a rede de gás natural encanado. Há suspeita de que vazamento de gás tenha causado o acidente. Até o momento, porém, não há consenso entre as autoridades sobre obrigatoriedade ou não de os restaurantes estarem ligados à rede.

O subsecretário de Defesa Civil, tenente coronel Márcio Motta, disse que a utilização de GLP em locais abastecidos pela rede é irregular e que o Corpo de Bombeiros e a CEG devem aplicar as punições cabíveis. A CEG e a Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico (Agenersa) informaram que não podiam confirmar a obrigatoriedade ou não de estar ligado à rede.

A empresa e a agência disseram que tratam apenas da rede encanada e que não têm a atribuição de determinar que estabelecimentos comerciais e residências sejam ligados à rede compulsoriamente. O Corpo de Bombeiros ainda não respondeu ao pedido de esclarecimento feito pela reportagem.

continua após a publicidade

O gerente da Câmara de Energia da Agenersa, Jorge Calfo, que esteve no local do acidente no início da manhã, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que poderia apenas confirmar que os dois restaurantes não estão ligados à rede da CEG.

O Código de Segurança contra Incêndio e Pânico (decreto estadual 897, de 1976) diz, no artigo 144, que “nas edificações dotadas de instalações internas situadas em ruas servidas por gás canalizado não será permitida a utilização de gás em botijões ou cilindros”. Não há ainda confirmação se os dois restaurantes já tinham as instalações necessárias para estarem ligados à rede.

continua após a publicidade

Técnicos ouvidos pela reportagem disseram que há uma dúvida sobre a aplicação da lei, porque o artigo 143 diz que o GLP pode ser usado em prédios com mais de cinco unidades habitacionais e “com destinação recreativa, hoteleira, comercial ou a qualquer outra que estimule ou provoque a concentração de público”, desde que o botijão ou cilindro sejam instalados “no pavimento térreo e do lado de fora da edificação”.

Vizinhos reclamaram que os restaurantes armazenavam cilindros de gás e disseram que sentiam cheiro do produto. Peritos vão tentar esclarecer onde e como os cilindros eram guardados nos dois estabelecimentos comerciais. Segundo a Secretaria de Ordem Pública do município (Seop), a pizzaria e o restaurante têm alvarás (autorizações) de funcionamento e certificado do Corpo de Bombeiros.

Pesquisador da Coordenação dos Programas de Pós-gradução em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Moacyr Duarte, especialista em prevenção de riscos, diz que, nos locais onde há rede instalada, é sempre recomendável o uso de gás encanado, mais seguro que o GLP.

Duarte diz que a fiscalização do uso de gás tem que ser modernizada. “O número de estabelecimentos cresce, tem que sofisticar a tecnologia de fiscalização. Tem que ser mais matemática, mais lógica”, afirma.

Segundo o pesquisador, um restaurante que use GLP tem, em geral, entre quatro e cinco cilindros. Se estiverem em ambiente fechado, no caso de vazamento, o gás se mistura com o ar, o que é uma combinação explosiva.

Segundo o especialista, só quando os bombeiros conseguirem retirar os escombros será possível saber quantos cilindros estavam armazenados em cada restaurante. Os botijões têm capacidade para 13 quilos de GLP e cilindros, 45 quilos.