Diante de deputados que chegaram a pedir sua renúncia, o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodrigues, afirmou nesta quarta-feira, 27, que ficará no posto, mesmo comparando o cargo com um “abacaxi do tamanho de um bonde”. Apesar de garantir a permanência, o jornal O Estado de S. Paulo apurou que a situação de Vélez é considerada delicada. Cogita-se até sua troca pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que tem enfrentado problemas para fazer a articulação política do governo.

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Na noite desta quarta, o presidente Jair Bolsonaro foi às redes sociais para dizer que o ministro não foi exonerado. Ao Estado, Onyx também rejeitou a possibilidade de queda de Vélez. Assessores que estavam com o ministro à noite informaram que ele se mostrava tranquilo, sobretudo depois de Bolsonaro ir ao Twitter garantir a ele sobrevida no cargo. Também no Twitter, o ministro escreveu que seu “compromisso é com o os brasileiros e seus representantes”.

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Nos bastidores, contudo, a avaliação de governistas é de que Vélez não tem programa e escalou para a equipe alguns “pensadores” que não entendem nada de administração. Militares no primeiro escalão do governo resolveram abandonar a tarefa de encontrar um substituto. Eles lavaram as mãos após a exoneração do presidente do Inep, Marcus Vinicius Rodrigues, indicado do grupo militar com cadeira na Esplanada.

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Nesta quarta, em audiência na Câmara dos Deputados, Vélez dizia estar firme no posto. “Muitos pediram para eu sair, mas não vou sair. Porque estou gostando muito do cargo. É um passeio às ilhas gregas? Não. O cargo é um abacaxi do tamanho de um bonde. Mas topei o convite porque quero devolver ao meu País o que ele fez por mim”, disse, com voz embargada.

Foram mais de cinco horas de sessão, com uma interrupção que durou menos de dez minutos. Até o fim da reunião, a sala permaneceu lotada, com pessoas acompanhando de pé as declarações de Vélez, com muitos ataques e poucos elogios.

Desgastado no cargo e enfrentando uma crise que já dura três semanas, o ministro alternou momentos de nostalgia, quando falou das razões que o levaram a sair da Colômbia e vir morar no Brasil, com revide a ataques feitos por congressistas e emoção ao falar do cargo. Com dificuldade em encontrar algumas palavras em português, Vélez garantiu que sua equipe continua a trabalhar, embora 15 exonerações tenham ocorrido nos últimos dias.

Critérios técnicos

O ministro atribuiu os desligamentos a critérios técnicos. Mas não poupou críticas a Marcus Vinícius Rodrigues. A relação entre ambos, que já era conflituosa, chegou ao limite quando uma portaria do Inep que determinava a suspensão da alfabetização foi publicada. No dia seguinte, a medida foi retirada e a avaliação, mantida. “O presidente do Inep puxou o tapete, mudou de forma abrupta o entendimento de fazer as avaliações”, justificou o ministro.

Para Vélez, a medida provocaria insegurança no setor. A proposta da suspensão partiu do secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim – ligado ao grupo de Olavo de Carvalho, e mantido no grupo. Vélez argumentou que a portaria, embora tenha base em parecer técnico, deveria ter sido debatida. Para ele, as críticas do presidente exonerado do Inep, como a falta de diálogo na equipe, teriam sido provocadas por “ressentimento”.

No governo Bolsonaro o MEC é um campo de batalha entre três grupos, que disputam poder. Militares, que estavam à frente de postos-chave (mas agora, sem o Inep, considerado um trunfo), o grupo de discípulos de Olavo de Carvalho e os chamados “técnicos”. Ao longo de dois meses, havia um certo equilíbrio entre as três alas. Com o episódio da carta enviada pelo ministro para sugerir a gravação do Hino Nacional em colégios, “técnicos” procuraram retirar integrantes dos “olavistas”. Houve o contra-ataque, que resultou em 15 demissões.

Nesta quarta, teria se definido mais uma: segundo o site G1, Paulo César Teixeira, diretor de Avaliação da Educação Básica, responsável pela elaboração do Enem, pediu exoneração.

Enquanto as disputas internas estão a todo vapor, as políticas de educação patinam. Sem prestígio, o ministro tem dificuldades em recompor quadros.

A situação delicada ficou evidente na sessão da Câmara, com ataques sem freios de boa parte dos deputados.

Vélez chegou acompanhado de assessores e secretários. A tropa de assistentes, contudo, não foi suficiente para poupá-lo das críticas, sobretudo a suas afirmações vagas, à falta de dados e à falta de metas específicas para a gestão. O deputado federal Túlio Gadelha (PDT-PE) afirmou que Vélez dava um péssimo exemplo para os alunos. “O senhor veio para a prova sem estudar. Apresentou uma lista de desejos”, disse. A deputada Maria do Rosário (PT-RS) chegou a citar o regulamento da Câmara para evitar que o ministro repassasse a palavra para seus secretários. “Se o senhor não souber as respostas é só dizer”, completou. Mais tarde, Vélez retrucou, dizendo que não é obrigação de ministro saber de tudo “de cor e salteado.”

Renúncia

O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) foi o primeiro a pedir sua renúncia. Em resposta, Vélez afirmou: “Não renuncio, não faz sentido. Só apresentaria minha renúncia ao presidente da República. Ou ele me demite…” O deputado do PSOL interrompeu a resposta do ministro e indagou: “Falta muito?” Parte dos presentes riu. Túlio Gadêlha (PDT-PE) disse desejar que Vélez permanecesse no cargo. “Em um governo que pretere Paulo Freire a Olavo de Carvalho, prefiro que o senhor não saia do MEC. Tenho medo de imaginar quem pode lhe suceder.”

A audiência não foi apenas com troca de farpas. Parlamentares afinados com o governo fizeram discursos em defesa de Vélez. Carla Zambelli (PSL-SP) até se desculpou pelos colegas. “Faltaram com a educação com o senhor e peço desculpas por isso.”

Entretanto, o ministro voltou a provocar reação negativa quando comparou o Brasil à Colômbia de 30 anos atrás, por causa da violência e das drogas. Em outro momento de lembrança ao país de origem, citou uma estratégia que supostamente seria adotada pelo traficante Pablo Escobar para afastar jovens de tráfico de drogas: biblioteca e quadras de esportes. A declaração foi dada quando defendia a implementação do modelo cívico-militar nas escolas públicas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.