Belém – O comerciante Amaílton Madeira Gomes e o ex-soldado da PM do Pará Carlos Alberto dos Santos Lima, acusados de seqüestro, tortura, castração e morte de cinco crianças em Altamira (PA), foram reconhecidos ontem no Tribunal do Júri, em Belém, como envolvidos nos crimes por dois sobreviventes, também castrados, e testemunhas.

O julgamento dos cinco acusados de seqüestrar, torturar, castrar e matar cinco crianças, entre 1989 e 1993, começou anteontem. O juiz desmembrou as sessões. Estão sendo julgados o Amaílton Gomes e o ex-soldado da PM, que trabalhou como vigilante na casa do comerciante na época dos crimes. Os dois negaram em juízo qualquer participação. Chegaram a dizer que nem sequer conhecem os outros acusados. No dia 2 serão julgados a vidente Valentina de Andrade e os médicos Césio Flávio Caldas Brandão e Anísio Ferreira de Souza. Valentina criou a seita Lineamento Universal Superior, que foi investigada pela polícia paranaense em 1992, acusada de envolvimento no sumiço de crianças em Guaratuba.

Testemunhas

Enquanto Amailton teria sido visto andando de carro e a cavalo às proximidades dos locais onde alguns corpos foram encontrados, Carlos Alberto seria o mesmo homem que teria atraído duas crianças para a mata e depois as dopado para outras pessoas castrá-las. Hoje com 22 anos, mas à época dos crimes com apenas nove, Otoniel Bastos Costa apontou Carlos Alberto como o homem que o convidou para apanhar mangas maduras. Na mata, disse ter o rosto coberto por um pano embebido em uma substância cujo cheiro não soube identificar e por fim desmaiou. “Ao voltar a mim, estava amarrado e adormecido da cintura para baixo. Desmaiei novamente. Mais tarde, após despertar, entrei em pânico ao verificar que estava sem os órgãos genitais”, contou.

O menino foi socorrido por um vendedor de leite. Assistido por uma psicóloga durante o depoimento, Otoniel disse já ter se submetido a 14 cirurgias. Ele usa uma prótese no lugar do pênis e dos testículos. “Estou com seqüelas físicas e psicológicas”, resumiu.

O outro sobrevivente a depor foi Wandicley de Oliveira Pinheiro. Muito abalado, o rapaz, hoje com 22 anos, chegou a precisar de atendimento médico antes de ingressar no salão do júri. Depois, também reconheceu Carlos Alberto dos Santos Lima como um dos autores da castração da qual foi vítima.

A testemunha Agostinho José da Costa foi contudente em seu depoimento. Ele contou ter levado a polícia até o local onde teria visto o médico Césio Brandão, outro acusado de envolvimento em rituais de magia negra e castração, saindo da mata perto de onde houve um dos crimes.

Brandão, segundo a testemunha, tinha nas mãos um facão sujo de sangue e um pequeno saco plástico. Ao ser visto, o médico teria fingido estar cortando algumas folhas com o facão. Amailton Madeira Gomes foi visto no local segurando um cavalo. No dia seguinte, Agostinho foi procurado por um cabo da polícia, de prenome Delmiro, que indagava a respeito do paradeiro de uma criança desaparecida.

A testemunha relatou o episódio do dia anterior e foi convidada a mostrar o local onde vira o médico sair do mato, que era próximo ao local onde o corpo da criança foi encontrado. A funcionária do Conselho Tutelar de Macapá, Sueli de Oliveira Matos, também acusou Carlos Alberto de envolvimento com os crimes. O ex-PM teria confessado a ela espancar meninos nas ruas de Altamira e desvirginar menores entre 12 e 14 anos.

O julgamento deve prosseguir hoje, quando haverá o duelo entre acusação e defesa, com três horas para cada lado. A sentença deve sair no fim da tarde.

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