Acareação de barbárie quase vira linchamento

Rio (AE) – Sob vaias e ameaças de linchamento, os acusados da morte do menino João Hélio Fernandes, de 6 anos, chegaram no começo da tarde de ontem ao 30.º Distrito Policial, em Marechal Hermes, no subúrbio do Rio, para uma acareação no caso da morte do menino, que foi arrastado por 7 km preso ao cinto de segurança do carro de sua mãe, que foi roubado por quatro homens na quarta-feira passada. Carlos Roberto da Silva, de 21 anos; Carlos Eduardo Toledo, o Dudu, de 23 anos; Tiago Abreu Matos, de 19; e Diego Nascimento da Silva, de 18 anos, foram ouvidos pelo delegado Hércules Nascimento, que quer esclarecer a participação de cada um no roubo do carro da mãe de João, quais dos rapazes entraram no automóvel e quem assumiu a direção.

Quando o menor E., de 16 anos, chegou ao local, o delegado Hércules Pires do Nascimento teve de empurrar um morador que tentava agredi-lo e esmurrava ambulância na qual ele estava. ?Sai para lá, vagabundo, agitador?, gritou o delegado, que empurrou o agente administrativo de saúde, Estevão Correa de Carvalho, de 27 anos, e se colocou à frente dele, impedindo sua entrada na delegacia. ? Sou trabalhador. Eu queria espancar o cara, matar o cara, coisa que eles (a polícia) deveriam fazer e não fazem?, disse ele.

Carvalho esmurrou a ambulância que trazia o menor e chegou às 16h30 para acareação. Pouco antes, o delegado havia reunido os cerca de 30 jornalistas que estão cobrindo o caso, para criticar o comportamento de alguns deles. Quando os outros quatro acusados chegaram, juntos, trazidos por policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil (Core), foram hostilizados por cerca de 50 pessoas que aguardavam a chegada deles, na frente da delegacia.

Por volta das 14h, no estacionamento da 30.ª DP, área de acesso restrito a jornalistas, os quatro foram novamente hostilizados verbalmente e agredidos com socos e pontapés. ?Partiram para cima dos policiais e queriam bater nos caras. Isso não é comportamento de imprensa, que tem que ser isenta como a polícia?, afirmou o delegado. ?Eu não acho que tem que bater não, tem que matar. Eu tenho uma filha de seis anos?, declarou um operador de câmera.

Do lado de fora, cerca de 50 pessoas exaltadas protestavam. ?Eu sou mãe, estou revoltada. Até antes desse fato acontecer, eu era contra essa violência individual. Agora, nesse caso especial, acho que eles merecem uma barbaridade, passar a mesma coisa que essa criança (João Hélio) passou. Está demais. Eu me coloco no lugar da mãe. Se eu tivesse uma arma aqui, era arriscado até eu mandar bala. Estou indignada e até emocionada?, declarou a dona de casa Kátia de Souza, que estava com a filha Sueli, de 2 anos, no colo e também levou Douglas, 5, para assistir ao espetáculo.

Os policiais que conduziram os acusados contaram que o carro foi apedrejado e teve o retrovisor direito quebrado na 39.ª DP, de onde foram os quatro foram trazidos. Diego Nascimento da Silva, de 18 anos, e Tiago Abreu Matos, de 19, chegaram à 30.ª DP com marcas no rosto, supostamente de agressão. ?Mata! Mata! Marta!?, gritava um menino de 6 anos do lado de fora da delegacia.

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