Ação prende 59 PMs envolvidos com tráfico no RJ

Chegou a 59 o número de policiais militares presos durante mega operação da Secretária de Segurança do Rio, Ministério Público e as polícias Militar e Federal. Eles são suspeitos de receber propina de traficantes em favelas da Baixada Fluminense, dominadas pela principal facção criminosa que atua no Estado. Também foram presos 11 pessoas envolvidas com tráfico de drogas e o crime organizado.

Os PMs presos atuavam principalmente no 15º Batalhão de Polícia Militar (Duque de Caxias) e recebiam propinas dos bandidos para não coibir a criminalidade. Eles são acusados de formação de quadrilha armada, tráfico de drogas, associação para o tráfico, corrupção ativa, corrupção passiva e extorsão mediante sequestro.

Desde as 6h de hoje, equipes da Ssinte (Subsecretaria de Inteligência), da Secretaria de Segurança Pública; Polícia Federal, Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar e pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro trabalham para cumprir os 83 mandados de prisão e 112 mandados de busca e apreensão nas casas dos denunciados e em batalhões da PM.

Segundo o Ministério Público, investigações que duraram cerca de ano apontaram que os policiais militares alvos da ação sequestravam bandidos e seus familiares, apreendiam veículos do tráfico exigindo dinheiro para devolução, negociavam armas e realizavam operações oficiais quando o pagamento da propina atrasava.

Grande parte dos policiais suspeitos atuavam na favela Vai Quem Quer. A investigação apontou também que eles agiam ainda nas comunidades Beira-Mar; Santuário; Santa Clara; Centenário; Parada Angélica; Jardim Gramacho; Jardim Primavera; Corte Oito; Vila Real; Vila Operário; Parque das Missões e Complexo da Mangueirinha.

Os policiais militares não tinham um comando único e dividiam-se em 11 células autônomas. Os presos estão sendo levados para o Quartel Geral da Polícia Militar, no centro do Rio.

Atuação do grupo

No núcleo do tráfico, Carlos Braz Vitor da Silva, o Paizão ou Fiote, é apontado pela polícia como o chefe do Comando Vermelho nas favelas de Duque de Caxias. Segundo investigações, mesmo preso na penitenciária Vicente Piragibe, no Complexo de Bangu, ele mantém contatos telefônicos com criminosos e continua dando ordens e recebendo informações detalhadas sobre a rotina do tráfico nas favelas, decidindo inclusive sobre os valores a serem pagos aos policiais militares.

A denúncia relata que um dos homens de confiança do traficante seria Willian da Silva, Pit ou Cabeça, elemento de ligação entre a quadrilha e os policiais militares da região. Ele é o responsável pelo pagamento das propinas, pela negociação do resgate de homens do bando sequestrados por policiais e pela liberação dos carros apreendidos pelos policiais.

A quadrilha de Fiote, além de manter parceria com o tráfico de drogas no Complexo do Lins, no Parque União e na Favela Nova Holanda –também alvos da operação– estendeu sua atuação para fora do Estado do Rio, estabelecendo relações com traficantes de Mato Grosso do Sul, de onde vem parte das drogas vendidas nas favelas de Duque de Caxias.

Valdirene Faria Barros, conhecido por Val, atuaria no grupo intermediando pagamentos a equipes de policiais em extorsões sofridas por integrantes dos bandos, e Lemuel Santos de Santana, o Doutor, teria a função de contratar advogados para defender traficantes presos e orientar a quadrilha na relação com PMs corruptos.

As investigações da força-tarefa apontam que o preço da propina flutuava de acordo com a capacidade de venda de drogas pelos bandidos.

Foi descoberto ainda que, na tentativa de ocultar os seus nomes, os policiais militares criaram apelidos coletivos para as equipes. Martelo, Rio do Ouro, Bonde do Chininha, Bonde do King Kong, Macumba e Munição eram alguns dos codinomes.

Para facilitar a comunicação, traficantes e PMs também montaram um dicionário próprio: “sintonia” (expressão usada pelos traficantes e policiais para definir o acordo de não interferência nas atividades ilícitas); “barcas” (furgões da polícia); “guerra” (repressão ao tráfico de drogas e entorpecentes); “pequenos” (carros policiais), entre outros.