Abatido, Lula nomeia nove ministros

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o seu sonho não é ser candidato de novo, mas comparar o que fez neste governo com os seus antecessores. "Um sonho que eu tenho e o meu desejo não é o de ser candidato outra vez. É, ao terminar meu mandato, comparar o que fizemos para o povo pobre com tudo que foi feito antes e medir, para ver se houve evolução ou não", declarou Lula, depois de ouvir do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura, Manoel dos Santos, em cerimônia no Planalto, que o conselho da Contag decidiu fazer campanha pela sua reeleição.

Lula falou de improviso e não se mostrou muito animado, nem quando a platéia o aplaudiu ao ouvir a defesa do presidente da Contag pela sua reeleição, em uma demonstração de que ainda não superou os últimos acontecimentos que o levaram a demitir o ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Na cerimônia, que se transformou em despedida dos ministros que estão deixando o cargo, como Miguel Rosseto, do Desenvolvimento Agrário, o presidente Lula falou que "não foi fácil a despedida" e que, na maioria dos casos, escolheu os secretários-executivos para assumirem as pastas.

E justificou: "não estamos mais na época do plantio, estamos na época da colheita, não temos de comprar mais nenhuma máquina nova, nós não temos que ficar mais fazendo, como chama, o manejo da terra, ou seja, nós plantamos há três anos, adubamos essa terra, agora estamos em época de colheita".

De acordo com o presidente Lula, essa regra, no entanto, não vale para os ministérios políticos, como é o caso das Relações Institucionais, para onde nomeou Tarso Genro, no lugar de Jaques Wagner. "Para o cotidiano da relação com o Congresso Nacional, com os partidos políticos, que tem que ter um ministro com a visibilidade muito grande para isso", observou. Lula elogiou todos que estão deixando os seus cargos, ao comentar a regra de desincompatibilização, que lembrou não ter sido ele que inventou e que nem queria comentar se era certa ou errada. "Certamente uns ganharão, outros perderão, mas desejo a todos boa sorte e saibam que seremos gratos pelo que fizeram", afirmou. Em conversa com um auxiliar Lula confessou que está se sentindo só. "Vou ter que ser o coordenador de mim mesmo", disse o presidente, referindo-se ao comando de sua campanha à reeleição.

Novos ministros

O Palácio do Planalto informou que cinco ministros vão ocupar os cargos definitivamente e quatro, interinamente. Lula recebeu anteontem o pedido de exoneração dos ministros Agnelo Queiroz (Esporte); Alfredo Nascimento (Transportes); Ciro Gomes (Integração Nacional); Jaques Wagner (Relações Institucionais); José Alencar (Defesa); José Fritsch (Aqüicultura e Pesca); Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário); Saraiva Felipe (Saúde); e Waldir Pires (Controladoria-Geral da União).

Os ministros escolhidos são para ficar até o fim do governo são Orlando Silva Júnior, que ocupará a pasta do Esporte; Paulo Sérgio de Oliveira Passos, dos Transportes; Tarso Genro, das Relações Institucionais; e Waldir Pires, da Defesa. Os ministros escolhidos para ocupar pastas interinamente são Altemir Gregolin (Aqüicultura e Pesca); Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário); José Agenor Álvares da Silva (Saúde) e Jorge Hage (Controladoria Geral da União). A nomeação dos novos ministros seria publicada, ainda ontem, em edição especial do Diário Oficial da União.

Pela primeira vez desde sua criação em 1999, o Ministério da Defesa será chefiado por um civil que classifica como "golpe" o movimento militar de 1964, episódio que, coincidentemente, fez 42 anos ontem. O baiano Waldir Pires, de 79 anos, cassado pelo regime militar comandará as três Forças Armadas. Mesmo com um currículo que inclui participação no governo deposto de João Goulart, o nome de Pires foi recebido com alívio por generais, brigadeiros e almirantes, que temiam a escolha do petista Tarso Genro, um ex-trotkista e visto como radical. "Um bode saiu da sala", disse um general. 

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