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1º simulado de evacuação é realizado em bairro com rachaduras em Maceió

Moradores do Pinheiro, em Maceió, participaram no sábado, 16, do primeiro simulado de evacuação no bairro, que apresenta rachaduras e afundamento do solo desde o ano passado. Segundo o coordenador da Defesa Civil do Estado de Alagoas, tenente-coronel Moisés Pereira de Melo, ao menos 10 mil pessoas fizeram o treinamento, que tinha como objetivo apresentar as rotas e pontos seguros estabelecidos pelo órgão estadual em caso de desabamentos no bairro.

“O bairro tem quase 20 mil habitantes e, na população mapeada, há 7 mil pessoas na área de risco. O simulado foi com dia e hora marcados para que a população seja alertada. Ele foi melhor do que a gente esperava.”

O tenente-coronel diz que mais de 600 agentes do Estado, do município e da União atuaram no procedimento e, segundo ele, ainda não há recomendação para retirada dos moradores do bairro. No entanto, as fissuras continuam surgindo nas residências e nas ruas. “A população fica muito aflita, principalmente, porque não se sabem as causas do problema. O bairro está se mexendo e apresentando rachaduras.”

Para a realização do simulado, que teve início por volta das 15 horas, vias do entorno foram interditadas e o itinerário das linhas de ônibus que circulam pela região foram alterados. As áreas de maior vulnerabilidade do bairro foram divididas por cores, sendo vermelha a que representa o ponto mais crítico. Um mapa mostra as áreas do bairro que estão em risco.

Melo diz que o procedimento foi programado para antes do período de chuvas no Estado, que costuma ocorrer no inverno, e que a previsão é de que o treinamento seja anual. “Se continuar com população residindo, faremos, no próximo ano, outro simulado.”

O apartamento do aposentado Jairon Pinheiro do Nascimento, de 64 anos, apresenta fissuras e está na área laranja. Ele, que tem glaucoma, foi um dos participantes do simulado. “Achei interessante para que o pessoal se previna, porque se trata de um momento de muito sofrimento. Fui andando devagar, porque tenho pouca visão.”

Jairon, que mora no bairro há dez anos, conta que sua residência fica a 50 metros da área vermelha, onde moravam parentes. “Tenho cinco irmãs que moravam aqui e já se mudaram. Elas alugaram casa. Não temos um diagnóstico do que está ocorrendo e isso deveria ser mais rápido. Todos nós estamos preocupados com a situação, tem muita gente com psiquiatra, tomando remédio, ninguém dorme. Todo mundo no bairro do Pinheiro está doente e estamos vendo uma tragédia anunciada. Tem de fazer algo enquanto há vidas aqui.”

Moradora do bairro há 22 anos, uma psicóloga de 60 anos, que não quis se identificar, preferiu não participar da ação. “Não me senti bem em estar lá com esse plano de evacuação. Além disso, minha mãe tem 92 anos e está com problemas de saúde. Eu sou psicóloga, mas o meu nível de equilíbrio está chegando ao fim.”

Ela diz que aguarda um uma orientação formal para poder sair de casa. “Preciso de um laudo. Foi uma casa feita por arquiteta, com o conforto que eu posso ter. O lado material, a gente sente e perde, mas a gente quer vida e segurança.”

Rachaduras e tremor

Em 15 de fevereiro do ano passado, uma fissura com cerca de 280 metros de extensão apareceu em uma via do bairro. Após, vistorias, foi necessário evacuar um imóvel.

No dia 3 de março do mesmo ano, a Defesa Civil Municipal foi acionada por causa de tremores de magnitude 2.5 na escala Richter no bairro. No mesmo mês, 24 apartamentos de um conjunto residencial precisaram ser desocupados por causa de danos na estrutura.

Ao longo do ano passado, várias análises foram realizadas para tentar descobrir as causas do afundamento do bairro, mas, até o momento, não há uma resposta.

No mês passado, teve início o cadastro de moradores que precisaram deixar suas residências. O Ministério do Desenvolvimento Regional autorizou o repasse inicial de R$ 480 mil para ajuda humanitária às famílias. O primeiro lote vai ser destinado a 80 famílias que moravam nos imóveis classificados como de maior risco. Cada proprietário receberá o valor de R$ 1 mil mensais pelo período de seis meses.

Equipes do Serviço Geológico do Brasil trabalham para descobrir as causas do problema. Entre as hipóteses, sendo o órgão, estão: características geotécnicas dos solos da região e forma de ocupação do bairro; presença de vazios, como cavidades ou cavernas, no solo e subsolo da região; estruturas ou feições tectônicas ativas na região ou extração de água subterrânea.

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