Brasil, olha pra cima!

Dizem que, no Brasil, as coisas só começam a funcionar depois do Carnaval. Para uma minoria da população, pode até ser que sim. Mas para a grande massa popular a festa não representa um divisor de águas no calendário. Passados os dias de pseudo-alegria, a vida continua. Voltamos a lembrar que a passagem de ônibus subiu, que ir ao supermercado está mais caro, que o preço da gasolina não se estabiliza, das dificuldades para estar com as contas em dia, juros altos, inflação, restrição de crédito, perda do poder aquisitivo, inadimplência… Quem não sente na pele (ou melhor, no bolso) essa dura realidade!

A euforia que tomou conta do País com a eleição do Lula, endeusado e considerado o “salvador da pátria” por muitos, parece que já passou. Ao acordar de um sonho, o povo começa a ver que nem tudo é um mar de rosas, que não basta mudar o presidente para o dia ser mais alegre e sobrar algum dinheiro no final do mês. Sentado na cadeira mais importante do País, o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva se deu conta de que é bem mais fácil estar do lado de fora do Planalto. Aquilo que muitas vezes criticou, agora também não consegue fazer. Não necessariamente por incompetência ou falta de vontade, mas por limitações (orçamentárias, políticas) que muitas vezes fogem de seu controle.

Todo mundo quer mudanças, reformas são o assunto da vez. Mas antes de sermos beneficiados com redução da carga tributária e novas regras para a Previdência, é preciso uma reforma muito mais urgente: de mentalidade. De um modo geral, somos mal-agradecidos. É até natural do ser humano adotar uma postura crítica, reclamar de tudo e de todos, porém, geralmente, não se toma nenhuma atitude para ajudar a melhorar a situação. Não quero dizer que devemos ficar passivos, assistindo à crise confortavelmente de uma poltrona e não fazer nada, mas podemos e devemos ser mais práticos. Temos que nos adaptar às circunstâncias, mesmo que isso requeira algum sacrifício, e lutar para melhorá-las.

É ilusão viver de aparências, ostentando um padrão de vida que não condiz com a renda. Para exemplificar: tem muita gente que reclama do salário, mas anda com carro do ano, só se veste com grifes, enche a mesa de queijos e vinhos importados, freqüenta os clubes mais seletos, nas férias viaja com a família para o exterior e por aí afora. Mas vive com o cheque especial estourado, o cartão de crédito atrasado, negociando reparcelamento de contas vencidas, fazendo empréstimos para cobrir furos no banco, enfim, empurrando com a barriga. Me desculpe, mas, para mim, gastar mais do que tem só para os outros pensarem que você é quem não é, não é vida.

Não é só isso. Nosso País é infelizmente conhecido pelo Carnaval, futebol e malandragem. Valores invertidos. O corrupto passa por honesto, a impunidade parece não ter fim. Que vivemos tempos difíceis, não há o que negar. A maneira de enfrentar os problemas é que vai mostrar quem realmente somos. O Brasil tem jeito sim, o Lula pode fazer um excelente governo. Mas não depende só dele nem da disposição dos companheiros brasileiros. Embora inserido numa economia globalizada, o País também não vai mudar somente se o cenário internacional for favorável. Há alguém maior que tudo isso muito interessado em transformar esse quadro negro. Brasil, olha pra cima!

Olavo Pesch

(olavo@pron.com.br) é repórter de Economia em O Estado.

Voltar ao topo