O Relatório Mundial de Drogas 2006, produzido pelo escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crime (UNODC), aponta para a redução do consumo de maconha no Brasil. O documento, divulgado hoje, mostra que o País ocupa o sexto lugar em apreensão da droga, com 3% do total mundial, e é o décimo no ranking mundial em apreensão de cocaína (15,8 toneladas em 2005). De acordo com o texto, o consumo da cocaína está estável (cerca de 0,4% da população brasileira). Já o consumo de opiáceos (substâncias derivadas de ópio) seria maior, 0,6% da população, ou 700 mil pessoas, o que tornaria o Brasil o maior mercado desse tipo de droga da América do Sul

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De acordo com Cíntia Freitas, coordenadora de programas do escritório do UNODC em Brasília, o número de consumidores aparece alto porque nessa categoria estão incluídos subprodutos da papoula, além da heroína, como ópio, morfina e sedativos. "Isso preocupa a organização porque aponta para o uso abusivo de medicamentos. São produtos legais, mas usados indevidamente", afirmou

Chapa-branca

O alto consumo de opiáceos foi contestado pelo presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone, Walter Mairovitch, especialista no crime organizado e o primeiro titular da Secretaria Nacional Antidrogas. "No Brasil, o consumo de cocaína é altíssimo e o de heroína, muito baixo. Os relatórios do UNODC não são confiáveis porque se baseiam em dados encaminhados pelos próprios governos, que não são checados pela ONU. É um relatório chapa-branca", afirmou

De acordo com o documento, há um "enigma" sobre o consumo da maconha no Brasil. O número declarado de consumidores da droga é muito inferior às apreensões feitas pela polícia. "Os números podem sugerir um mercado de exportação. Tais dados surpreendem, pois o Brasil é mais conhecido como importador de maconha do que exportador", diz o documento. "Não tem explicação para a estabilização da cocaína e declínio da maconha.

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Não me atreveria a fazer uma avaliação. Talvez por causa das apreensões haja menos produto no mercado e isso explique o consumo menor", arriscou Cíntia

Consumo no mundo

Segundo o relatório, cerca de 200 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos usam drogas ilícitas pelo menos uma vez por ano no mundo, o que corresponde a 5% da população mundial. Como dado comparativo, o documento informa que 28% das pessoas nessa faixa etária fumam cigarro (tabaco).

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Entre os que consomem drogas ilícitas, 110 milhões são considerados usuários regulares (uma vez por mês). Hoje são cerca de 25 milhões de dependentes químicos no mundo e 3,7 milhões estão em tratamento (o Brasil não informou à ONU dados sobre adictos em recuperação)

De acordo com o relatório, a maconha produzida é cada vez mais potente. Em 1990, apenas 5% da droga testada nos Estados Unidos tinham índice de THC (principio ativo) superior a 9%. Em 2004, 35% da maconha testada apresentavam nível de THC acima de 9%. O relatório aponta ainda para a cannabis sinsemilla, que contém botões e as flores da planta fêmea e seria mais potente

De acordo com o estudo, "a cannabis foi associada a início de psicose em pessoas mais vulneráveis, e agravante de sintomas ligados à esquizofrenia. Efeitos negativos intensos da cannabis incluem ataques de pânico, paranóia e sintomas psicóticos". "Não se pode tratar a maconha e haxixe como drogas brandas", afirmou Cíntia

Maierovitch diz que essas informações também não são novas. "A ONU nega a proliferação da maconha transgênica, que pode ser geneticamente alterada. Nas feiras internacionais de maconha os produtores sempre tentam apresentar a mais potente. Na Holanda, o vencedor passa a ser assediado pelos cafés, que querem oferecer aos seus clientes aquela que recebeu o troféu.