Brasil em Davos

O Brasil é um dos poucos países ainda não ricos, embora pretensiosos, que foram convidados a participar, como assistentes, do Fórum Econômico Mundial que se realiza em Davos, na Suíça. Também foram convidadas a África do Sul, a China e a Índia, tidas e havidas como em desenvolvimento. Essa classificação de país desenvolvido, em desenvolvimento ou subdesenvolvido é sempre discutível, pois há países que não estão na rabeira da lista e apresentam uma distribuição de renda bem razoável. E outros, considerados ricos ou em desenvolvimento, que oferecem cenário de miséria digno do famoso romance de Victor Hugo. Talvez estejamos entre estes últimos.

Lula embarcou para Davos, depois de ter cuidado do lançamento do PAC e outros assuntos que se apresentam como soluções recheadas de abacaxis difíceis de descascar.

Os encontros do Fórum Econômico Mundial tradicionalmente começam com uma sessão de atualização sobre a economia mundial e, neste ano, foram também realizadas análises das economias regionais, inclusive da América Latina. Conta o jornalista Clóvis Rossi, enviado do jornal Folha de S. Paulo, que, apesar da pauta, ninguém tocou em América Latina. Ninguém falou em seus países, entre os quais o Brasil se inclui. Na reunião global, o Brasil nem sequer foi citado, apesar de haver um clima eufórico sobre o desenvolvimento econômico mundial. Quando se tocou no assunto do desempenho regional desta parte das Américas, o crescimento da região foi considerado medíocre. A Argentina foi o país de melhores resultados. Como o crescimento da região foi no ano passado de 5,3%, número considerado muito baixo, não tocaram no nome do Brasil. Em termos de desenvolvimento econômico, andamos patinando, às vezes andando para trás.

A Índia, nossa colega entre os países convidados e em desenvolvimento, cresceu 8,3%. A China apresentou sua parte de um novo milagre asiático, com 10,4% de crescimento econômico. Indagado, Nouriel Roubini, presidente da Roubini Global Economics, dos Estados Unidos, disse que o Brasil fez as reformas macroeconômicas indispensáveis, tem uma boa estratégia fiscal e reduziu a inflação a patamares mais civilizados. Mas, para aumentar o crescimento é preciso elevar a taxa de investimento e realizar reformas indispensáveis. O PAC serve ou deveria servir para isso.

Melhor definição sobre esses sucessos que o americano ressaltou e resultaram em números tão acanhados que nem mereceram comentários foi a do ex-presidente do México, Ernesto Zedillo. Para ele, os resultados medíocres dos países latino-americanos têm como causa o fato de que são ?capitalistas relutantes?. Mas, se o Brasil pode ser omitido numa roda de discussão de ricos, não é ignorado, pois neste mundo carente de alguns insumos, como água doce, terras, possibilidades de oferta de energia alternativa e ansioso por uma batalha pela salvação do planeta, antes que desapareça num novo ?big bang?, este imenso território com uma população já bastante numerosa tem e terá cada vez mais um papel importante.

A ida de Lula a Davos objetivou, em primeiro lugar, insistir em mudanças nos subsídios que os países desenvolvidos dão aos seus produtores, em prejuízo da nossa agricultura e pecuária. Tem, portanto, um objetivo válido, além, é óbvio, de buscar uma melhor relação entre os ricos, os com pretensão a ricos e os pobres, tornando este planeta morada de uma sociedade mais justa.

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