O vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, disse nesta quinta-feira (24) que Brasil e Bolívia chegaram a um acordo para retomar imediatamente as negociações sobre questões energéticas, mais especificamente sobre novos investimentos na Bolívia, nacionalização das instalações da Petrobras no país e renegociação do contrato de preços do gás exportado para o Brasil, além de temas que envolvem cooperação em diversas áreas.

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Em entrevista coletiva no Palácio do Itamaraty, García Linera relatou que deixou claro, nos encontros que teve pela manhã com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Silas Rondeau (Minas e Energia) e com o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, que o principal negociador da Bolívia – o ministro de Hidrocarbonetos, Raúl Solíz Rada – passará a ser acompanhado, nas conversas, pelos ministros bolivianos da Presidência, do Planejamento e da Fazenda, conforme decisão tomada ontem pelo presidente da Bolívia, Evo Morales.

O próprio García Linera deverá monitorar semanalmente o andamento dessas conversas. "Há vontade dos dois governos de trabalhar de maneira franca e direta", disse García Linera. "Vamos colocar toda a nossa energia para alcançar um grande acordo energético com a Petrobras." O vice-presidente afirmou que sua presença em Brasília não se destina a buscar algo de concreto do governo brasileiro, mas a assentar as bases de uma relação de cooperação que possa levar a uma integração energética duradoura.

Questionado se a paralisação das negociações entre a Petrobras e a YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos) nos últimos dois meses não poderia levar o governo de La Paz a adiar o prazo final para a adequação da estatal brasileira ao decreto de nacionalização do setor de gás, García Linera afirmou que ainda não se analisa, na Bolívia, essa possibilidade. "Creio que não vamos postergar o prazo, que termina em novembro. Temos ainda tempo suficiente para assinar os acordos", disse. "Mas temos que acelerar as negociações. Cabe ao governo (boliviano) tocar esse carro adiante.

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Censura contra Solíz Rada

O vice-presidente boliviano afirmou que não se surpreendeu com a decisão do Senado boliviano de aprovar moção de censura contra Solíz Rada e de pedir o seu afastamento. O Senado boliviano aprovou a moção com base em denúncias de corrupção feitas contra Solíz Rada e dirigentes da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB).

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Linera observou que o presidente Evo Morales foi eleito com 54% dos votos válidos, mas seu partido não conseguiu a maioria no Senado. Ele destacou o fato de a decisão ter sido tomada pelo Senado, que "é o último reduto de poder das forças conservadoras", e não pelo Congresso. "Nos surpreendeu que o Senado tivesse demorado tanto", acrescentou.

García Linera afirmou que a decisão do Senado não desviará "em um só milímetro" a decisão do governo do presidente Evo Morales de implementar o decreto de nacionalização do setor de gás e petróleo. Ao contrário, disse o vice-presidente, a decisão vai "redobrar o ímpeto" do governo.