Alain Belda, o executivo brasileiro mais bem-sucedido no mundo, declarou, há três meses, que o Brasil é um País ausente no jogo internacional. Na opinião dele, o Brasil quando se faz notar é por bobagens, do tipo da posição sobre a guerra do Iraque. Como pouca gente deve conhecer Alain Belda, é importante dizer que ele é o principal executivo da Alcoa, a maior produtora mundial de alumínio. Sob o seu comando estão 128 mil funcionários em 300 unidades industriais e um faturamento de US$ 21,9 bilhões.

Se formos ouvir o executivo agora, sobre o que está achando do comportamento do País nas negociações da Alca certamente dirá que o Brasil está de novo conseguindo se fazer notar por temas obsoletos. A Área de Livre Comércio das Américas (Alca), pretende eliminar as barreiras ao comércio e ao investimento, desde o Alasca até a Terra do Fogo, unindo 34 países, somando um PIB de US$ 12 trilhões.

Evidente que o Brasil precisa salvaguardar interesses e, fundamentalmente, é essa a principal razão da querela com os Estados Unidos, justamente porque eles também têm interesses que querem ver respeitados. Mas para isso existe negociação. E nesse ponto eu fico com Alain Belda: “O Brasil tem que se colocar numa posição comercial. Temos R$ 1 trilhão de PIB e precisamos de 2 ou 3 trilhões. O ponto é: como vamos fazer isso? Como elevar para US$ 10 mil a renda per capita brasileira, nos próximos oito anos? Esse deve ser o jogo do Brasil. O resto é tudo conversa”. Tem gente que pode até torcer o nariz para o pragmatismo do executivo, mas bravatas de nacionalismo não vão aumentar as exportações brasileiras. Ao contrário.

O que Belda prega e, de modo geral, as pessoas de bom senso neste País, é que o Brasil deveria profissionalizar as discussões da Alca, ao invés de jogar na fogueira apenas os diplomatas do Itamaraty. A idéia de liderar um grupo de 22 países não-alinhados na Alca e na Organização Mundial do Comércio (OMC) pode deixar o País no isolamento. Prova disso que até os sócios do Mercosul, onde o Brasil tem liderança, já pularam fora e estão loucos para acertar com os EUA.

A luz vermelha já acendeu no Palácio do Planalto e o presidente Lula determinou que os técnicos dos ministérios também acompanhem as negociações com a Alca. É um bom começo mas ainda é pouco. O Brasil deveria seguir o exemplo do México, quando foi negociar a sua entrada no Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), em 1994. Três anos antes, os mexicanos reuniram uma equipe de técnicos especializados, sob o comando do Ministério da Indústria e Comércio. Cada setor da economia mexicana produziu uma radiografia e o resultado é que o México montou um projeto eficiente para o Nafta.

Outro ponto importante é que a comissão de notáveis debatia exaustivamente as propostas com os empresários e só iam para as reuniões com posição fechada sobre os temas. Conclusão: em 1994 o México exportava US$ 29 bilhões e em 2002 chegou aos US$ 73 bilhões.

Miguel de Andrade (economia@pron.com.br) é editor de Economia e Internacional da  Tribuna do Paraná.

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