Brasil ainda tem um dos piores índices de desigualdade do mundo, diz Ipea

Rio de Janeiro – Embora entre 2001 e 2004 o Brasil tenha reduzido índices de desigualdade, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) alerta para o fato de o país ainda despontar internacionalmente como um dos que possui o maior grau de desigualdade de renda do mundo, mesmo se for levado em conta países com índices de desenvolvimento semelhantes, como os da América Latina.

De acordo com o livro ?Desigualdade de Renda no Brasil: uma análise da queda recente?, divulgado nesta sexta-feira (13) pela entidade, o Brasil conseguiu ultrapassar apenas 5% dos países no ranking da desigualdade.

?Na verdade, a gente ocupa a 10a pior colocação neste ranking. Nos encontramos em uma situação ruim em relação a países da América Latina com nível de desenvolvimento similar ao nosso?, informa o economista do Ipea Gabriel Ulyssea.

No entanto, ele avalia a evolução nos índices de desigualdade verificada entre 2001 e 2004 deve ser vista como "um primeiro passo de uma longa jornada para nos tornarmos um país mais igualitário do ponto de vista da distribuição de renda?.

O estudo mostrou que o coeficiente de Gini, um dos índices de desigualdade mais utilizados no mundo, declinou 4,6%, ao passar de 0,594, em 2001, para 0,566 em 2005. Quanto mais próximo de zero, menor é a desigualdade.

Com artigos de alguns dos maiores especialistas em desigualdade do país, o Ipea procurou reunir no livro uma visão abrangente do tema, inclusive sob óticas distintas.

Uma das conclusões do estudo é que ainda seriam necessários mais de 20 anos para o Brasil atingir um nível similar ao da média dos países com maior grau de desenvolvimento. ?Portanto, é preciso persistir?, alerta Ulyssea.

A pesquisa também levanta a contribuição da queda recente da desigualdade para o crescimento da renda dos mais pobres e, conseqüentemente, para a redução da pobreza e da extrema pobreza no país.

Na investigação do crescimento da renda dos mais pobres, entre 2001 e 2005, o Ipea constatou um crescimento anual de 0,9% da renda nacional, mas os mais ricos perderam renda. A taxa de crescimento anual da renda dos 10% e dos 20% mais ricos da população foi negativa (0,3% e 0,1%, respectivamente).

?Isso justifica o fato de que a taxa de crescimento da renda dos 10% mais pobres atingiu 8% ao ano. Portanto, o período 2001-2005 foi marcado por duas transformações desejáveis na distribuição de renda brasileira: houve crescimento, embora muito modesto, e a desigualdade reduziu-se significativamente".

O livro mostra outra constatação: ao contrário do que historicamente sempre ocorreu no país, recentemente, a queda na pobreza resultou sobretudo da redução no grau de desigualdade. A porcentagem de pobres e a de extremamente pobres caiu cerca de 4,5 pontos percentuais cada uma.

?A novidade deste período é que, ao contrário de outros episódios históricos em que a pobreza também se reduziu significativamente, desta vez, a principal força propulsora foi a redução na desigualdade e não o crescimento?.

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