Bolo e farelos

O Produto Interno Bruto cresceu 0,5% no segundo trimestre deste ano em relação ao primeiro trimestre. No primeiro trimestre houve uma expansão de 1,3%. Em relação ao segundo trimestre do ano passado, o avanço foi de 1,2%. A notícia está estampada em todos os jornais, divulgada pelas televisões e se espalha Brasil afora. Quem constatou esse fato foi o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Entendeu a informação? É claro, pois o leitor é alfabetizado e ainda privilegiado, pois tem como adquirir jornais, ver televisão e até consultar a internet.

Mas a maioria dos brasileiros não tem essas facilidades. Não consegue chegar perto de desvendar tão complexa e difícil informação. É gente que não sabe o peso da arma que possui, o voto, através do qual poderia manifestar sua aprovação, desaprovação ou mesmo justificar o que aconteceu. É, numa comparação que pretendemos seja o reconhecimento da injustiça que sofre e nunca uma ofensa, como o boi que caminha docilmente para o matadouro, sem ter consciência da força que tem. É um esforço inútil explicar a esses nossos patrícios uma notícia tão complicada. Nem querem que entendam. Os responsáveis por essa defecção econômica, para não usar uma palavra bem parecida, mas que poderia ser considerada de mau gosto e de mau cheiro, preferem manter a maioria dos cidadãos na ignorância. E até lhes dizem com insistência que esses números ridículos são uma vitória. Mantidos na ignorância, os seus exploradores poderão contar com um gigantesco eleitorado tapeado, vivendo num País onde dizem que canta o sabiá. Escondem que aqui grasnam (ou que outro som façam os comedores de carniça) e cada dia mais espalha-se um mau cheiro de lixão. Quanto mais se mantiver o povo na ignorância, mais ele se conformará com o sofrimento; e, não entendendo, poderá ser levado a confundir gato com lebre. Ou migalhas com merecidas fatias de bolo.

Esses dados sobre o PIB e seu ridículo crescimento são o bolo da farra que fazem da política econômica deste País, dividido em fatias para os que mandam e já têm alguma coisa e migalhas para a maioria. O PIB é a soma de tudo o que se produz no País, seja no comércio, na indústria, nos setores de serviços ou lá onde quer que se faça alguma coisa mensurável. Essa produção é feita pelo governo e pela iniciativa privada, vale dizer, pelo povo e pelo poder público às custas do povo. A produtividade, resultado maior ou menor conforme os recursos, o trabalho e o suor gastos, é pior quando o governo põe a mão na massa. Mas no Brasil de hoje, de ontem, e tudo indica que também de amanhã, o governo é que toma a si a responsabilidade ou privilégio de fazer o bolo. Sempre com o dinheiro do povo. E apresenta baixíssima produtividade, o que quer dizer que gasta muito para fazer um bolo abatumado. Resultado: sobram míseras migalhas para o povão, que merece um pedaço igual – ou maior – que os privilegiados governantes e os ricos.

O resultado dessa nefasta notícia já é de se adivinhar: vão dizer ao povo que as migalhas que lhe dão são provas incontestes de que o governo é do bem. Que o 0,5% é um número muito grande e que os confeiteiros desse intragável PIB merecem aplausos…

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