Bijuteria de bazar

Entre um ato falho e outro, afirmações algo sensatas e outras verdadeiros absurdos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai colhendo os frutos das sementes que lançou desde o primeiro dia no Palácio do Planalto, com vistas a assoalhar o caminho para a campanha da reeleição.

É necessário lembrar em favor do presidente que o instituto polêmico da reeleição não é obra sua, mas lhe caiu no colo graças à visão casuística do governante anterior, Fernando Henrique Cardoso, cuja volúpia pelo poder mandou às favas seu comportamento olímpico de príncipe da sociologia, para se transformar num mercador de votos dos parlamentares, como qualquer outro, a fim de evitar supostas surpresas desagradáveis na votação da emenda constitucional.

Assim, os que torcem o nariz ao ex-metalúrgico, críticos acerbos de uma administração que pouco fez além de garantir o pagamento das mensalidades do programa Bolsa Família, para cerca de onze milhões de famílias residentes nos bolsões da mais cruciante miséria brasileira, de onde Lula sai com trinta milhões de votos, estão obrigados a cobrar do ex-presidente as favas contadas da reeleição.

A oposição perde-se em conjecturas tão débeis ou falsas como bijuterias vendidas em bazar, tentando confundir a opinião pública com ilações e interpretações, não raro estapafúrdias, como a escamoteação nas imagens do programa eleitoral de Lula na televisão da bandeira vermelha e da estrela do Partido dos Trabalhadores.

Ora, seria uma contribuição mais valiosa e apropriada à conjuntura político-eleitoral que o País vive, uma forma de elaborar um esforço pedagógico com muito mais propriedade e de ajudar de fato o eleitor a tirar conclusões abalizadas, se os partidos de oposição tornassem claras as muitas lacunas do projeto inacabado do governo federal, sem os rancores característicos dos que antecipam o gosto amargo da derrota.

Lula vai empurrando com a barriga, tirando de letra, como prega a fórmula do não faça hoje o que pode ser deixado para amanhã, já se assanhando a insinuar que as utopias prometidas e não realizadas ficam para o segundo mandato. Que poderá ser, conforme o exemplo recentíssimo da história republicana, bem mais lamentável que o primeiro. Quem viver, verá…

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