O Tribunal de Contas da União (TCU), órgão fiscalizador dos gastos feitos pelo governo federal, principalmente na execução de obras públicas, acrescentou uma colherada de dissabor ao desabrido otimismo esbanjado nos últimos dias, incluindo o périplo pela Escandinávia e Espanha, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Alardeando absoluto destemor, garantindo que nada existe na Terra que ponha em risco a solidez da economia brasileira, o presidente declarou a uma platéia de investidores espanhóis, em típica demonstração da prosápia dos políticos mordidos pelo messianismo, que não teria como evitar uma carraspana no amigo George Walker Bush, a cujo governo debitou tanto a origem quanto a solução da crise do setor imobiliário e seus desdobramentos internacionais.
Nesse particular, decerto advertido por um assessor para assuntos geográficos, Lula procurou remendar a gafe cometida em Madri ao afiançar que não permitiria à crise norte-americana cruzar o ?Atlântico? para desembarcar no Brasil. A bandagem veio na recomposição da idéia de que o estouro financeiro da construção civil nos Estados Unidos não tem fôlego, graças ao SuperLula, para cruzar nossas fronteiras ?marítimas ou terrestres?.
Para um governo que somente agora conseguiu enxergar a enormidade dos absurdos intencionais na interpretação de fatos políticos, econômicos e sociais, apontados num livro didático distribuído pelo Ministério da Educação a milhões de adolescentes, sem nenhum exame proficiente do respectivo conteúdo, ainda dessa vez a sutil revisão da ilustração geográfica presidencial sofreu algum atraso.
Coube ao TCU, no estrito cumprimento de sua obrigação institucional, a contrapelo do incontido entusiasmo do presidente Lula com uma administração que, a seu juízo, está próxima da perfeição, embora não possa viver sem a cobrança da CPMF, mostrar à sociedade o tamanho do rombo causado pela desídia no acompanhamento das obras executadas com recursos do erário.
Segundo o órgão fiscalizador, 33% das obras executadas pela União apresentam irregularidades, das quais 29 são empreendimentos listados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no valor de R$ 2,99 bilhões. O nível das irregularidades é de tal monta que o TCU chegou a cogitar a hipótese da paralisação dos projetos, bloqueando os recursos até o saneamento das contas.
Para os mais realistas, mesmo submetidos à avessa definição do presidente da República, de que muita gente torce desesperadamente pelo pior, sempre haverá sabedoria em recordar o dito popular: ?Por fora bela viola, por dentro pão bolorento?.