Batalha doméstica

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem dúvida que os ataques sofridos nos últimos dias pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a quem confirmou como candidata de sua preferência à própria sucessão em 2010, pretendem criar obstáculos a seu desempenho funcional no âmbito do governo, podendo se transformar mais adiante numa forma de impedir que a mesma seja a escolhida para liderar a chapa governista na disputa pela Presidência da República.

Não são conhecidas, por enquanto, as conclusões do presidente Lula sobre a nebulosa operação de um grupo de cardeais do Partido dos Trabalhadores, que estariam trabalhando com afinco para a gestação de novo campo hegemônico (os petistas adoram esse tipo de nomenclatura) na governança interna do partido. Eles ainda não tiveram coragem de confessar, mas se de fato existe a determinação ela certamente é inspirada no extinto Campo Majoritário, que além da profunda identificação do presidente da República, tinha como operador mais destacado o ex-ministro José Dirceu.

Pode parecer apenas falsa impressão, mas é notória a movimentação do ministro da Justiça, Tarso Genro, ferrenho opositor do comando político exercido por José Dirceu sobre a máquina petista, tanto que tentou dificultar de todas as maneiras a eleição do deputado Ricardo Berzoini (SP), preposto de Dirceu para a presidência da Executiva Nacional. Aliás, lembremos que Tarso foi indicado para assumir provisoriamente a presidência do partido, na fase de total desmoralização advinda do envolvimento da cúpula dirigente do PT na trama financeira sugerida por Marcos Valério Fernandes de Souza. Tudo indica que saiu chamuscado.

O ministro é identificado como mentor da insatisfação dos chamados petistas puros, enclave que contaria com a chancela de alguns colegas de ministério e do governador da Bahia, Jacques Wagner. Em contrapartida, na defesa do posicionamento de Lula estariam alinhados os ministros Paulo Bernardo, Guido Mantega e Luiz Marinho, que saiu para ser candidato a prefeito de São Bernardo do Campo, além de Gilberto Carvalho e Marcos Aurélio Garcia.

Pouco antes da rumorosa entrevista da advogada Denise Abreu, diretora defenestrada da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), com críticas pesadas à atuação da ministra-chefe da Casa Civil no episódio da venda da Varig para investidores estrangeiros, que teriam utilizado sócios laranjas para burlar a lei, analistas políticos citaram a movimentação do grupo petista interessado no comando nacional do partido.

Um pormenor instigante foi acrescentado: o grupo também planejava a criação de obstáculos à evolução natural da candidatura da ministra. Foi só coincidência, ou Denise Abreu se dispôs, mesmo de forma extemporânea, aportar sua contribuição pessoal ao esforço dos inconformados com a postura do presidente Lula em relação à candidatura de quem brindou com o rebarbativo epíteto de mãe do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC)? O que mais está reservado daqui em diante à antiga guerrilheira, que participou de ações temerosas como a expropriação de um cofre contendo US$ 2 milhões, razoável fortuna para a época, de propriedade do ex-governador Ademar de Barros?

Quanto às declarações de Denise, posteriormente ampliadas em depoimento à Comissão de Infra-Estrutura do Senado, Lula teria afirmado que alguém está querendo ?transformar uma desqualificada em heroína?. Em lugar do menoscabo com que se referiu diretamente a uma pessoa antes indicada para integrar quadros públicos e, por esse motivo, teria de merecer apoio irrestrito para ser nomeada, o presidente da República poderia ter aproveitado a oportunidade para apresentar à Nação as razões que levaram o governo a confiar um cargo tão importante a alguém sem a qualificação necessária para exercê-lo. Das duas, uma. Ou o governo não tinha informações sobre quem nomeou para a composição da máquina ou ignorou um cuidado elementar, permitindo a infestação do joio. Pano lento. 

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