Batalha de todos

Os casos de violência relacionados ao consumo de drogas vêm provocando não só uma enorme repercussão na mídia como assustado a sociedade, principalmente pais de adolescentes e jovens. Ante o caos, não deixam de ser elogiáveis os esforços que algumas organizações têm despendido de forma quase anônima para enfrentar essa ameaça coletiva, com pouco ou nenhum apoio oficial. O fato é que cresce o número de dependentes, aumentando o medo e a insegurança.

Ao Estado compete liderar – com apoio da mídia e da sociedade organizada – um grande mutirão capaz de superar esse desafio. Nos últimos anos o que se viu no Brasil foram campanhas publicitárias caríssimas, porém de duvidável eficácia prática. Se esses escassos recursos fossem aplicados em programas dirigidos por organizações sérias que buscam realmente combater essa grande mazela social, certamente o avanço seria inequívoco. Uma questão fundamental no combate às drogas é que todos os atores envolvidos nessa empreitada evitem cair nas armadilhas fáceis do moralismo e nas tentativas desesperadas e exclusivas das soluções repressivas, Cabe ao poder público reprimir, através das forças policiais, o grande negócio em que se transformou o tráfico de drogas, no entanto, em paralelo, é preciso que haja uma mobilização capaz de convencer e conscientizar os jovens do risco a que estão expostos a cada dia, em cada esquina de qualquer cidade deste País. Aliás, a droga deixou de ser um problema meramente urbano, das grandes cidades, para se enraizar inclusive pela área rural dos menores e mais longínquos rincões.

Nesse processo, algumas etapas são condições necessárias. A começar pela estruturação de um modelo orgânico e exeqüível que seja capaz de resultar em fórmulas práticas e realizáveis em curto ou médio prazo. Em primeiro lugar é preciso vontade política dos governantes, com a estruturação de uma coordenadoria antidrogas, ligada diretamente ao poder decisório do Estado, à semelhança do já existente no governo federal. Uma instância ágil, desburocratizada e que lidere todos os esforços necessários através da estrutura formal do Estado. A criação de um Fundo antidrogas com recursos advindo, por exemplo, do ICMS da venda de cigarros e bebidas. Reformular o Conselho Estadual de entorpecentes do Paraná que, com funções normativas e deliberativas, ampliará a participação de organizações que atuam na área, fugindo assim do atual hibridismo que o limita: legislar e executar. O estímulo e apoio financeiro à municipalização das ações – a criação de Conselhos municipais antidrogas é o primeiro passo – assim como estruturar unidades especializadas nos hospitais universitários para tratamento e diminuição dos agravos e, principalmente, a organização de um grupo técnico multidisciplinar permanente, para homogeneizar os conceitos, definir as diretrizes aos projetos macros e coordenar o treinamento dos envolvidos através das instituições de ensino estaduais e privadas.

É fundamental nesse processo o engajamento de professores – um orientador antidrogas em cada escola, por exemplo – bem como recuperar, para servir a comunidade, a experiência e a riqueza de conhecimento de voluntários da terceira idade. Muitas dessas ações poderão ser financiadas com recursos do Fundo Nacional Antidrogas do governo federal, além da possibilidade de captação de recursos em organismos internacionais e da desejável parceria com a iniciativa privada. Mao Tse-Tung, o líder chinês, afirmou que “toda grande marcha começa pelo primeiro passo”. O desafio está posto. Basta que queiramos mudar.

Jorge Salles é médico psiquiatra em Curitiba. E-mail: jramsal@hotmail.com

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