Bastos confirma que participou no dia 23 de reunião com Palocci

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, confirmou hoje, por meio da assessoria, que participou, na tarde do dia 23, de uma reunião com o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci. No encontro, realizado na residência oficial do Ministério da Fazenda, também estavam o então presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Jorge Mattoso, e o advogado criminalista Arnaldo Malheiros Filho, amigo de Bastos.

O objetivo da reunião, segundo a edição da Revista "Veja" que chegou hoje às bancas, era descobrir uma maneira de encobrir a participação da cúpula do governo na violação da conta bancária do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o "Nildo" – que desmentira Palocci, relatando as supostas idas dele à mansão alugada em Brasília pelos lobistas da chamada "República de Ribeirão Preto". De acordo com a revista, discutiu-se a hipótese de oferecer R$ 1 milhão para algum funcionário da CEF que se dispusesse a assumir a responsabilidade pela quebra do sigilo bancário.

Embora confirmem terem participado da reunião, Bastos e Malheiros negam que o encontro tenha servido para tais objetivos A versão foi considerada "fantasiosa e infundada" pelo ministro da Justiça. Segundo a assessoria do Ministério da Justiça, Bastos considerou irrelevante a presença na reunião e, por isso, não fez qualquer menção ao encontro, quando começou a ser questionado sobre o papel no episódio da quebra ilegal do sigilo

O encontro aconteceu quatro dias antes da saída de Palocci do ministério. Àquela altura, era grande o desgaste do então ministro com a confirmação de que o extrato bancário do caseiro foi obtido e divulgado ilegalmente, na tentativa de criar a versão de que "Nildo" recebeu dinheiro para comprometer Palocci. A revelação de Mattoso de que o extrato de "Nildo" foi entregue por ele diretamente a Palocci, feita no dia 27, provocou a queda do ministro.

Em nota distribuída hoje, a assessoria de Bastos informa que ele foi à casa de Palocci para apresentar Malheiros, "um dos principais especialistas em Direito Penal do País", ao então ministro da Fazenda. Palocci queria saber que as implicações jurídicas da violação da conta e os crimes nos quais estavam envolvidos os responsáveis.

A assessoria diz ainda que Malheiros "fez uma exposição, ouviu e falou alguns aspectos genéricos da questão" e que "não houve qualquer menção à informação de que o executivo da Caixa havia entregado extrato bancário ao ministro Palocci".

"O ministro Márcio Thomaz Bastos não participou ou tomou conhecimento de encontro para articular suposta estratégia de defesa ou de cobertura para possíveis responsáveis pelo crime de quebra de sigilo do senhor Francenildo da Costa, ilegalidade que está sendo investigada pela Polícia Federal", diz a nota do Ministério da Justiça.

Malheiros confirma a versão de Bastos e nega ter discutido uma saída para preservar as autoridades envolvidas no crime e encontrar um falso responsável. "Se aconteceu algo parecido, acho difícil que fossem tratar desse assunto na frente de um estranho. Se o Márcio (Thomaz Bastos) ou qualquer um dos outros fosse forjar uma versão, não fazia sentido me chamar. Duvido que tenha acontecido."

Malheiros revelou que deixou a casa da Palocci e, em companhia de Mattoso, participou de outra reunião, com funcionários da Caixa, na qual continuou a ser discutida a violação da conta bancária. "Fui a uma reunião com o pessoal da Caixa para tentar reconstituir os acontecimentos", disse o criminalista. Malheiros não identificou os funcionários, que disse não serem de "alta patente".

Na noite da véspera da divulgação dos dados bancários do caseiro, ocorrida no dia 17, dois dos principais assessores de Bastos também estiveram na casa de Palocci. São eles o secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, Daniel Goldberg, e o chefe de gabinete de Bastos, Cláudio Alencar. Apenas Goldberg ficou para uma reunião. Na mesma noite, Mattoso também esteve na casa e entregou a Palocci os extratos do caseiro.

A assessoria do Ministério da Justiça manteve a versão apresentada por Goldberg e Alencar em depoimentos prestados à Polícia Federal (PF) de que foram à casa sem que Bastos soubesse.

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