Apesar da expansão acelerada dos empréstimos nos últimos dois anos, a baixa renda ainda possui grande potencial de consumo de produtos bancários, especialmente de crédito. A conclusão é de estudo realizado pela TNSInterScience, empresa de pesquisa de mercado com grande atuação no segmento financeiro.

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Segundo o levantamento, apenas 20% da população de baixa renda possui empréstimos e dívida, somente 19% têm cartão de crédito e 11% têm poupança, sendo que mais de uma pessoa pode apresentar os três produtos ao mesmo tempo. Entre os que possuem empréstimos e dívida, a renda destinada a saldá-los corresponde a 15% da total.

O estudo mostra que 36% da população de baixa renda não tem nenhuma linha de crédito à disposição, contra 28% no total da sociedade brasileira. Dos que possuem linha de crédito na baixa renda, 45% não as utilizam. "Isso evidencia as oportunidades para o setor financeiro", disse o diretor da TNSInterScience, Paulo Secches.

Segundo ele, um dos principais obstáculos à utilização de crédito por esse público é a taxa de juros. A pesquisa demonstra que 70% deixaram de fazer algum empréstimo ou financiamento nos 24 meses anteriores devido aos juros altos. De acordo com o levantamento, 44% desistiram de empréstimo em banco, 34% de crediário de financeiras, 23% de crediário em loja, entre outros.

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"Esses dados derrubam o mito de que, cabendo no bolso a prestação, a baixa renda toma crédito. Segundo o levantamento, a maior parte das pessoas evita pegar empréstimos porque considera os juros altos e têm medo de não conseguir pagar", disse Secches.

A pesquisa também perguntou aos entrevistados sobre o nível de endividamento no final de 2005. Segundo o levantamento, 45% dos entrevistados da baixa renda se disseram mais endividados do que anteriormente, mesmo porcentual obtido entre os pesquisados de todas as camadas da população brasileira. O estudo diz que 34% se consideram menos endividados e 21%, igualmente endividados. Na população total, os porcentuais são de 33% e 22%, respectivamente.

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Ao mesmo tempo em que questionou os entrevistados sobre o nível de endividamento, o estudo perguntou sobre o uso da renda extra de final de ano, que inclui 13º salário. A maioria da baixa renda (56%) respondeu que utilizaria os recursos para o consumo, sendo que apenas 19% destinariam ao pagamento de dívidas.

"Este direcionamento é um sinalizador de que o endividamento da população está em um nível suportável. Se as pessoas estivessem preocupadas, destinariam os recursos para saldar as dívidas", avalia Secches. No final de 2002, pesquisa do mesmo tipo realizada pela TNSInterScience mostrava que 57% usariam a renda extra para pagar dívida, contra apenas 18% para o consumo.

O estudo considera de baixa renda as pessoas que apresentam renda domiciliar de até cinco salários mínimos. Tal padrão corresponde a 68% dos 44,8 milhões de domicílios brasileiros. Nessa camada da sociedade, a maior parte (52%) é trabalhador informal, sendo que 48% têm registro em carteira. Apenas 17% possuem computador em casa e somente 20% têm acesso à internet.

Segundo Secches, 31% da renda familiar desse público vai para gastos com alimentação; 13% para contas de gás, luz e água; 10% para aluguel; 8% para transporte; e 6% para vestuário e calçados; entre outros. "Ou seja, 68% da renda destina-se a gastos básicos da família", diz.

Para o diretor da TNSInterScience, a baixa renda ainda é carente de produtos bancários, apesar do desejo de entrar para o grupo de clientes de instituições financeiras. O cartão é o produto de crédito mais desejado por esse público (19%), seguido pelo cheque especial (13%), financiamento de imóveis (7%) e crediário de lojas (6%).

Secches acredita que o maior consumo de produtos pela baixa renda dependerá, principalmente, da menor taxa de juros e da ampliação e do ajuste do portfólio atual de crédito dos bancos. "O mercado de pessoa física ainda é muito novo no Brasil e, por isso, o sistema financeiro atua com cautela, para observar como será o comportamento do mesmo", disse.