Azeite e água

Quando Lula começou a amarrar alianças para eleger-se e levar ao poder o seu PT, estranhou-se o acordo estreito com o PL -Partido Liberal. Estreito porque ao PL foi oferecida, inclusive, a Vice-Presidência da República, na pessoa do senador e empresário mineiro José de Alencar. Outras alianças foram feitas, igualmente estranhas, mas aquela entre o PT e o PL, consideradas as histórias dos dois partidos e suas linhas ideológicas e programáticas, revelou uma tentativa de mistura de azeite com água.

O liberalismo defendido pelo PL significa a política econômica da livre iniciativa, das leis de mercado, da oferta e da procura, da ausência ou drástica redução da intervenção do Estado. Já a linha do PT sempre foi a da estatização da economia, que vai até o controle da propriedade dos meios de produção. A intervenção permanente, como regulador ou partícipe, do Estado na vida dos cidadãos, seja no campo econômico, como nos da educação, saúde, etc.

A leitura primeira que se fez desse acordo e de outros que foram firmados, foi que, para o PT valia tudo para eleger Lula, esperando-se que depois de chegar ao poder implantaria um governo dentro das linhas programáticas da agremiação, ou seja, o socialismo numa de suas muitas graduações. Está acontecendo o contrário. A cúpula, por evolução ou pragmatismo, apressou-se em colocar em postos-chaves, em especial da área econômica, homens que são (ou foram de esquerda), mas que se comprometem a uma política ortodoxa de atendimento aos ajustes fiscais recomendados pelo FMI e acreditados pelo mercado. Comprometem-se, também, a cumprir os compromissos e contratos do Brasil, interna e externamente, reconquistando a confiança do mercado. Tudo issto para descontentamento dos petistas mais extremados, que, para bem da verdade, são os mais fiéis às lutas, programas e história do partido.

Com este novo comportamento da cúpula petista, inclusive de Lula, parecia ser muito mais fácil a convivência com o PL e mesmo com nomes como José Sarney, Orestes Quércia e outros que se posicionaram com destaque na nova administração, sem perder as feições de estranhos no ninho.

O entendimento conseguido no plano federal, por mais esdrúxulo que pareça, deveria estar funcionando, desde que o PT do poder fosse capaz de enfrentar o PT dele alijado pela fidelidade aos princípios programáticos que foram provados inviáveis na hora de governar. Passou a haver um enfrentamento entre petistas, uns mandando e outros acusando-os de se desmandarem. O que não se esperava mais é que aquela aparentemente impossível simbiose entre o azeite e o vinho também viria a criar problemas. Mas está criando. Tanto no governo federal como nos dos estados onde PT e PL se coligaram, têm ocorrido desentendimentos e graves acusações envolvendo autoridades do PL. Uma delas é o próprio vice-presidente da República, que depois de praticar nepotismo teve de exonerar os parentes que tentava apaniguar. Há ainda o problema do ministro dos Transportes, Anderson Adauto, suspeito de envolvimento num esquema de corrupção na Prefeitura mineira de Ituruna, e que está sendo mantido no cargo.

Lembremo-nos que a imposição do PL na coligação situacionista já custou a candidatura da senadora petista Heloísa Helena ao governo de Alagoas. E em São Paulo a coligação esboroou-se desde a primeira hora. Em outros estados a coligação vai mal ou já acabou. A verdade é que o PL virou um incômodo para o PT.

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