Vovô de 70 anos ainda se arrisca no globo da morte

Os quase 70 anos vividos, vários acidentes e ossos quebrados ainda não fizeram Walter Cabral, 69 anos, desistir de suas apresentações dentro de um Globo da Morte. O artista, que tem toda a família envolvida em atividades circenses, sobe em sua máquina (como ele chama sua moto) e faz dezenas de acrobacias, cada uma batizada com um nome. Conhece cada centímetro do seu globo e hoje trabalha com os filhos Walter Alexandre Araújo Salgueiro, 36, e Rodrigo Thomany, 35, que aprenderam o ofício com o pai. Ele vai mostrar toda a sua técnica, conhecimento e vitalidade no próximo sábado e domingo, durante um evento de carros que acontece no Marumby Expocenter.

Walter diz que faz 40 anos que se apresenta no Globo da Morte. Tudo começou a convite de um amigo, que fazia as apresentações, mas achava que estava envelhecendo e queria passar seu conhecimento a alguém. Assim, Walter entrou no globo e não parou mais com a atividade, que ora foi hobby, ora foi o ganha pão da família. Ele já ensinou o ofício a dezenas de pessoas e até recebeu uma carteirinha da Polícia Federal, em 1977, que na época fiscalizava a atividade e emitia o documento somente a artistas comprovadamente profissionais. Mesmo assim, ele diz que não aprendeu tudo.

Dos vários acidentes que sofreu, já teve costelas quebradas (que hoje são saltadas para fora e ele não se importa em mostrar), já deslocou um braço (e fez os médicos recolocarem no lugar na hora, sem nenhuma anestesia), já teve o braço furado por um guidão (que entrou de um lado e saiu do outro), entre muitos outros “tombos”, como ele mesmo define de forma mais branda. Neste acidente com o guidão, os médicos mandaram ele ficar três meses parado. Em 15 dias, já estava de volta aos treinos.

E apesar de tantos sustos e da idade que muitos consideram avançada, Walter mostra muita saúde, boa forma física e não quer parar. No meio de tantos treinos e trabalho, ele ainda conseguiu ter 15 filhos com a atual e a falecida esposa. Todos (até os netos, sobrinhos, genros e noras) aprenderam com ele e exercem todos os tipos de atividades circenses que se possa imaginar. “Muitos nem sabem. Mas às vezes vêm os circos famosos de fora e nos chamam para algumas apresentações quando estão em Curitiba”, contou Marilza, esposa de Walter.

Confiança

O artista e seus dois filhos contam que, para entrar no globo, os problemas têm que ficar de fora. “A concentração tem que ser total”, disse o filho, Walter Alexandre. “Não é à toa que chamam de Globo da Morte. Não é um nome qualquer. É porque realmente é muito perigoso e qualquer pequeníssimo erro pode ser fatal lá dentro”, ressaltou o pai.

A concentração também é peça fundamental para o sincronismo das manobras. O piloto tem que conhecer a mecânica e o barulho da sua moto e a dos companheiros, para saber em que lado estão do globo, que manobra estão fazendo, se estão acelerando ou freiando, se vão virar para a esquerda ou direita, enfim, para que ninguém saia da rota que deve seguir.

Mas concentração, técnica e sincronismo ainda não são suficientes para um piloto profissional (que demora de três a quatro anos com treinos diários para aprender o Globo da Morte). “Um artista do globo não pode beber, nem usar drogas. E o principal, você tem que ter confiança em quem está lá dentro com você”, contou Rodrigo, que há três semanas entrou no globo com um rapaz que disse que sabia todas manobras. Mas o rapaz errou o lado de entrada de uma acrobacia e causou um acidente. Rodrigo levou um tombo bastante feio e a moto do parceiro de globo passou por cima de sua barriga.

Técnica

Pai e filhos revelaram algumas técnicas de quem faz a atração. A moto pode ser de qualquer marca. Tem que ser potente, mas não pode ser pesada, pois além de deformar e trincar o globo, dificulta o piloto em controlá-la. A pressão dentro do globo é grande durante a aceleração. Por isto a moto precisa ser leve, mas com alta rotação. Walter, por exemplo, usa uma Suzuk,i antiga Cross 125 importada. Tem outra Suzuki, também antiga, 180 cilindradas semi-cross, que está passando por reforma. Mas ele também já usou uma Yamaha 125 TT, entre outras marcas e modelos.

A velocidade também não pode passar dos 60 ou 70 quilômetros por hora. Afinal, os pilotos possuem apenas 15 metros de pista lá dentro. Dependendo do tamanho do globo, até oito pilotos podem fazer acrobacias ao mesmo tempo. “Mas eu não acho interessante. As manobras ficam restritas e o público não consegue entender”, alertou Walter, que acha que duas ou três motos, no máximo quatro, podem dar um belo show com acrobacias mais complexas.

Entre as manobras que ele e os filhos consideram mais difíceis, estão a dupla montanha, em que as motos se cruzam num mesmo ponto do globo; a serpentina, com motos subindo e descendo; e a cruzada fatal, com um piloto circulando na vertical e outro na horizontal. Como proteção, eles usam equipamentos de motocross.

Walter e os filhos vão fazer duas apresentações (uma no sábado, outra domingo), durante o Curitiba Racing Motors, evento automotivo que reunirá hot rods; carros antigos, personalizados, off road e de competição; motos especiais; curiosidades mecânicas; miniaturas; aerografia automotiva; além da presença de diversos fabricantes e lojistas da área automotiva.