Lindinho roxo, um fusquinha bem malcriado

Uma bolsa de mulher geralmente carrega lixas de unha, maquiagem e cartões com telefones de manicures e terapeutas. Já a bolsa da analista de sistemas Sheila Stofela, 40 anos, é um pouquinho diferente. Ela também tem seu lado superfeminino, mas misturado aos batons e cremes, ela também carrega filtros de ar, chaves de fenda e cartões de mecânicos, funilaria, cromagem de rodas, entre outros serviços que geralmente são interesse dos homens.

Sheila é dona de um Fusca 1974 inteiro personalizado, que aliado à simpatia da dona, ganha a aprovação e o “parabéns” de homens e mulheres, de todas as idades. Aliás, foi um pouco difícil entrevistar Sheila com o carro parado ao lado do Parque Náutico, no Boqueirão, em pleno feriado. Todo mundo que passava próximo parava para cumprimentar, dizer algo, perguntar se o carro era da analista e por quanto ela vende. E mesmo que não fosse pra falar nada, sempre alguém dava uma paradinha pra olhar.

Malcriado

Sheila o apelidou de “Lindinho Malcriado”, inscrição que leva no vidro dianteiro e nos bancos de couro. A analista explica que “Malcriado” é o nome de um grupo de competição de som de seus amigos. Então, como cada carro tem sua identidade no grupo, o Fusca foi batizado de “Lindinho Malcriado”.

Sheila conta que comprou o Fusca há seis anos e, desde então, o personaliza aos poucos. A primeira mexida, na verdade, surgiu de uma necessidade. Na primeira semana com o carro, o motor pegou fogo. Obrigada a arrumá-lo, começou a ajeitar outras coisas. Como o Fusca não tinha nem velocímetro, um amigo da analista viu que o painel do Fiat encaixava certinho e sugeriu a adaptação, aceita na hora. O motor 1.300L foi todo reformado. Mas Sheila não quis apimentá-lo. O deixou original e só investiu em pequenas mudanças, como a pintura de algumas peças, o filtro de óleo esportivo e a ignição eletrônica. Na saída dupla do escapamento (original do Fusca 1974), ela apenas colocou ponteiras cromadas. O tanque de combustível de ferro foi substituído por um de fibra. A tampa do tanque, que no Fusca fica dentro do porta-malas e é necessário abri-lo para abastecer, foi substituída por uma tampa de moto e colocada do lado de fora da lataria.

Sheila também queria um limpador de vidro traseiro, para que pudesse enxergar melhor as manobras. Um amigo da analista, e que estava junto na oficina, arrancou de seu jeep um limpador e viu que dava para adaptar. “Ta aí, até hoje o limpador, funcionando inclusive com o motorzinho do jeep. É o único Fusca em todo o Brasil que tem limpador traseiro”, assegurou Sheila.

“Halloween”

Mas uma das mudanças mais radicais que ela fez foi a cor da lataria, motivada por uma parada na blitz aos seis meses com o carro. “Eu comprei achando que era branco. Olhando na luz do sol, parecia mesmo. Quando veio o documento, tava escrito cinza. Telefonei pro antigo dono, até que ele me convenceu que o carro era cinza mesmo. Sabe aquela caixa de lápis antiga, com 36 cores? Sabe aquele cinza que ninguém queria usar? Era a cor do carro”, riu a analista.

Mas o pior foi ter que convencer o policial da blitz, que o carro era cinza. Fazia seis meses que Sheila estava com o Fusca. “Depois de uma meia hora olhando em todos os ângulos possíveis, consegui convencê-lo. Mas foi a gota d”água pra decidir mudar de cor”, disse Sheila, que adotou o roxo “haloween” por ideia de sua irmã, que falou brincando sobre a cor e a analista levou a sério a sugestão.

Único

Algumas coisas deram uma personalização única para o carro, como as caveirinhas na placa, a caveira na manopla do câmbio (todas acendem os olhos), os retrovisores de Uno, os detalhes pintados em prata, os tapetes “cromados”, os quatro bancos em couro branco e roxo com o bordado “Lindinho”, o neon azul debaixo do ,painel, alguns relógios e botões adaptados no painel, enfim, coisas que, aos poucos, Sheila foi tirando ideias da internet.

Por fora, grandes personalizações deram vida. A analista queria colocar os faróis do Polo. Mas não conseguia achar ninguém que fizesse os pára-lamas em lata, por um preço menor que o valor do próprio carro. Então decidiu fazer os pára-lamas, os pára-choques e os estribos todos em fibra, com formatos que ela mesma desenhou. Na traseira, colocou faróis de caminhão. Aproveitou até para colocar a luz de ré, que não tinha no Fusca.

Por dentro, ainda há um desafio. No que dependesse da analista, o carro ficava inteiro na lata. Mas, como o Detran não permite, ela ainda está usando os espelhos de porta e outros acabamentos originais, enquanto planeja a nova forração. “Eu e meus amigos já fizemos uns 15 projetos. Não gostamos de nenhum e botamos todos no lixo. Uma hora eu acho algo que me agrade”, garantiu.

As rodas aro 17, por pouco não voltaram para o aro 15. A analista disse que pesquisou, estudou, procurou na internet até achar uma roda que lhe agradasse. “Cheguei até a postar nas redes sociais qual seria a nova roda do Fusca”, garantiu. Mas ao chegar na loja de rodas, foi o dono da loja que não deixou Sheila cometer esta loucura e ela acabou voltando para casa com as antigas rodas 17, apenas com pneus novos, não tão finos quanto os de antes.

Mas as paradas na oficina nem sempre foram “flores”. Aos 30 dias com o carro, Sheila mandou o Fusca para uma revisão (quando ainda era cinza), porque queria viajar. O mecânico, no entanto, arrumou apenas o lado direito. “Saí da oficina e o carro não virava para a esquerda. Meu amigo que estava junto quase teve um troço de nervoso no trânsito. Ihhh, tem tanta história deste carro pra contar”, brincou.

Giselle Ulbrich
Veja na galeria de fotos o fusca.

Veja na galeria de fotos o fusca.

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