Aventuras com ases do volante – primeira parte

Parece até brincadeira, mas, um piloto de carro de corridas, integrante de uma das principais senão a principal equipe de carros de competição do Paraná e uma das mais destacadas do País na época, a Transparaná, que possuía revendas de veículos da marca Willys no Estado, teve de parar, durante importante prova de estrada, num posto de abastecimento de combustível e comprar, com seu próprio dinheiro, óleo lubrificante para o motor do seu veículo.

Isto aconteceu no dia 18 de dezembro de 1966, por ocasião do II Grande Prêmio Rodovia do Café, num percurso de 802 quilômetros, ida e volta entre as cidades de Curitiba e Londrina.

Ressalte-se que essa foi uma das mais importantes corridas automobilísticas de estrada que o Brasil viu até hoje, reunindo considerável parcela dos mais importantes pilotos de competição da época e os carros mais velozes, tanto nacionais quanto importados e algumas das famosas carreteiras (carros importados das décadas de 30 e 40, adaptados para corridas), como as de Altair Barranco, Angelo Cunha, Afonso Ebbers, Eduardo Werner, Osmar M. Coutinho.

Lá estavam pilotos de renome como o campeão dos campeões Chico Landi, com um Simca Emi-Sul – n.º 2 e o paulista não menos conhecido Camilo Christófaro, com sua carreteira Chevrolet motor Corvette n.º 18.

A largada dos 32 carros participantes, estilo Indianápolis/EUA, aconteceu no marco zero da Rodovia do Café, recém-asfaltada e impecável em todo o trajeto até Londrina, no Parque Barigui.

E lá estava entre os pilotos o curitibano Luiz Gastão Ricciardella, que defendia as cores da equipe Transparaná, tocando a berlineta Willys Interlagos n.º 100. Dessa equipe constavam seis carros, sendo duas berlinetas, um Interlagos e três Gordini, sendo um deles estilo carreteira.

No trajeto de ida, já na altura da serra de São Luiz do Purunã, ou seja, a apenas cerca de 30 quilometros de Curitiba, Ricciardella notou que a pressão do óleo do motor do seu carro começou a baixar.

Logo adiante, teve de parar e lançar mão de uma lata de óleo que transportava, para caso de emergência, a fim de reabastecer o motor. Ali começou a sua maratona de paradas e consequente perda de tempo a cada vez que a pressão do óleo baixava, para repor o lubrificante no motor. Os carros retardatários iam passando e ele a dar óleo ao motor.

Quando chegou na cidade de Ponta Grossa, a 100 quilometros de Curitiba, novamente teve que reabastecer o cárter do motor do carro. E vejam que o ponto final da corrida estava longe ainda, a cerca de “só” 300 quilometros de distância.

Dali para a frente Ricciardella foi colocando mais e mais óleo o tempo todo, até que o estoque do produto que levava no bagageiro do seu carro, a partir de Curitiba, ficou reduzido a zero.

A solução foi parar num posto de abastecimento de combustível mais adiante e comprar mais óleo. Só que, nesse momento, lembrou-se que estava com pouco dinheiro no bolso.

Afinal, qual é o piloto que vai participar de uma corrida dessa envergadura levando muito dinheiro. Não teve conversa: foi obrigado a pagar o óleo com o seu próprio dinheiro, ficando então meio “duro”.

Agora imaginem a surpresa dos espectadores, que somavam milhares e milhares ao longo dos 400 quilometros da estrada, vendo um carro de corridas daqueles parar num posto de gasolina para seu piloto comprar óleo. A parte final desta matéria será publicada na próxima edição.