Austeridade fiscal

O debate eleitoral centra-se em alguns pontos críticos da vida brasileira como dívida pública, taxa de juros, nível suportável e desejável de inflação, desenvolvimento econômico, emprego, combate à criminalidade. Temos um dicionário de problemas. Aqueles são os verbetes mais consultados. O atual governo, agora com a concordância, às vezes relutante, de alguns candidatos à sucessão, insiste na austeridade fiscal como objetivo primeiro, para gerar superávits que permitam a rolagem da dívida. Oposicionistas insistem que o País não terá, em futuro próximo, condições de pagar (melhor dizendo, rolar) a dívida, mesmo que a tempestade que se abate sobre o mercado e sacode as finanças brasileiras transforme-se em bonança.

A dívida seria excessiva, passando dos 50% do PIB Ä Produto Interno Bruto, ou seja, o valor de tudo o que o País produz nos setores primário, secundário e terciário da economia. Já estaria nos 56%. Analistas de agências de risco e bancos, no exterior, consideram o risco de aplicar dinheiro no Brasil em crescimento. O motivo seria TPE, tensão pré-eleitoral. E, em geral, culpam Lula porque comete o pecado de aparecer, até aqui, como o preferido do povo. O famoso semanário alemão Der Spiegel, em sua versão na internet, logo depois de ganharmos a copa, qualificou Lula como o ©gol contra para a economiaª.

Os estrangeiros admitem que os fundamentos da economia brasileira, como afirma o nosso governo, vão bem, obrigado. Mas sabem que, com a permanência da tormenta, eles podem ser abalados, salvo se a austeridade fiscal praticada pela administração afrouxar. Mas, ao que tudo indica, Malan e companhia pretendem é apertar ainda mais o cinto, garantindo um razoável superávit primário. Prova disto é que, depois de cortes no orçamento do ano que vem para compensar possíveis perdas com o atraso na prorrogação da CPMF, ao verificar-se que não houve interrupção na arrecadação daquela ©contribuiçãoª, o governo os manteve. Manteve, para desgosto e sob protesto dos congressistas.

Como no exterior, no Brasil os bancos nacionais também costumam fazer suas análises e em cartas aos investidores, discutindo a situação e fazendo recomendações sobre investimentos. A última carta do Itaú, informativo denominado Em Alta, firmada por Sérgio Ribeiro da Costa Werlang, diretor daquele estabelecimento de crédito, professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas e ex-diretor do Banco Central, insiste que a austeridade fiscal é o melhor e o único remédio e que um calote na dívida seria pior do que o que todos os brasileiros sofreram com o Plano Collor, que seqüestrou os recursos dos cidadãos. O especialista diz que os que consideram a dívida pública brasileira muito alta e elevados os seus juros fazem uma análise superficial e errônea.

Revela que, enquanto nossa dívida é pouco superior a 50% do PIB, o Japão tem uma dívida bruta de 123% do seu PIB. A Itália e a Bélgica têm dívidas próximas de 100% de seus PIBs. E acrescenta que, após a II Guerra Mundial, os EUA tinham uma dívida superior a 100%. Ainda, que o Tratado de Maastricht coloca como objetivo a relação de 60% do PIB para a dívida da Comunidade Econômica Européia.

Assim, austeridade e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Não existem motivos para desastrocismo. Este, ou o governo que o sucederá, tem de seguir com a austeridade fiscal, mesmo que esteja com a carteira recheada de novas idéias.

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