Aumento dos juros

O mercado esperava, ou pelo menos suspeitava, mas o eleitorado que levou Lula ao poder achava impossível que, no seu primeiro mês de mandato, o presidente petista permitisse a elevação dos juros. Mas foi o que aconteceu na primeira reunião do Copom deste governo. Enquanto oposição, o PT sempre afirmou que a queda das taxas de juros deveria ser uma decisão política. A vontade política seria o remédio milagroso para a cura de todos os males do País. Ou faltou essa vontade política ou a elevação da taxa Selic, de 25 para 25,5%, foi uma decisão técnica. Outra hipótese existe ainda: estaria o governo reiterando para o mercado a sinalização de que conduzirá a economia de forma ortodoxa.

Justificando a alta dos juros, o ministro da Fazenda disse que foi uma decisão técnica. Que vontade política não baixa nem eleva juros, parece evidente, embora seja certo que a má vontade política ou a demagogia podem influir nessa gangorra. Condições de mercado e decisões técnicas, estas sim influem nas taxas de juros. Pode o mercado demandar muito dinheiro, através de empréstimos, e, então, funciona a lei da oferta e da procura, subindo as taxas. O inverso também acontece, é óbvio.

A razão técnica que teria levado um governo petista a inaugurar sua política de juros com uma alta, seria a mesma que levou o governo FHC, com Armínio Fraga na presidência do Banco Central, a subir a taxa básica Selic para 25%. Sua intenção seria segurar a inflação. Com juros mais altos, haveria menor procura por empréstimos e a demanda de bens e serviços fica contida. Quando o mercado está aquecido, o consumo é exagerado, pela mesma e irrevogável lei da oferta e da procura, e os preços sobem. Dois argumentos existem para opor-se a essa justificativa técnica. Em primeiro lugar, não há indicações de que estejamos com demanda aquecida. Pelo contrário, as vendas parecem contidas. Em segundo lugar, existem sinais claros de que o surto inflacionário vem perdendo força, tendendo à estabilização, alguns preços caindo a olhos vistos.

Assim, a decisão técnica não teria razões nem produzirá os desejados efeitos.

Tanto nos meios empresariais, como na massa trabalhadora organizada, como os sindicatos filiados à Força Sindical e outras centrais, surgiram severas críticas a esse aumento dos juros. Uns o condenam por razões econômicas e outros, por razões políticas ou até ideológico-programáticas.

Para os empresários, famintos de crédito, os juros elevados inviabilizam negócios e o aumento da produção. Para a área sindical dos trabalhadores, a velha pregação do PT e outros partidos de esquerda, de que as taxas de juros altas são uma política capitalista selvagem que deveria mudar com o novo governo, continuam uma crença. E o aumento gera uma dúvida sobre que rumos nesta e em outras matérias está tomando o governo Lula. Estaria repetindo FHC, abraçando o que, pejorativamente, chamavam de neoliberalismo? Ou esta administração é tão recente e inexperiente que ainda não vislumbrou seus caminhos?

O episódio do aumento da taxa básica dos juros pode não contribuir de forma efetiva para segurar a inflação, mas é certo que se soma a outros atos e declarações infelizes de membros do governo que vêm contribuindo para seu desgaste. Lula e sua equipe não podem, no governo, fazer tudo o que sonharam e prometeram em campanha. Mas é preciso cuidado para não sofrer um desgaste prematuro.

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