Aula magna

Enquanto o presidente Lula da Silva dizia em Belém, onde fez campanha no domingo passado, que seu palanque era ?uma aula de pós-graduação em sociologia política?, a Polícia Federal descobria em São Paulo uma trama que descambaria na compra de um dossiê elaborado pelos Vedoin – os chefes da máfia das ambulâncias superfaturadas – com o velado objetivo de incriminar o ex-ministro da Saúde de FHC, José Serra, e seu secretário-executivo, Barjas Negri.

O tal dossiê, ao que se presume, seria usado para dificultar a desenfreada corrida de Serra na direção do Palácio dos Bandeirantes e, ainda no terreno das suposições, visaria dar a Aloízio Mercadante algum fôlego na arrastada marcha em perseguição ao contendor.

A Polícia Federal prendeu o advogado Gedimar Passos e este informou que fora incumbido de comprar por R$ 1,75 milhão informações sobre vários políticos envolvidos no escândalo dos sanguessugas. O nome dado à PF foi o de Freud Godoy, segurança e assessor especial de Lula, com cargo comissionado no gabinete pessoal do presidente da República, que ontem anunciou seu pedido de exoneração.

Gedimar foi preso no sábado, num hotel paulistano, com R$ 750 mil em dinheiro vivo, relatando à PF que entregaria a bolada a Valdebran Padilha, ligado ao PT de Mato Grosso, encarregado de pagar aos Vedoin a importância de R$ 1,75 milhão pelo dossiê contra o candidato tucano.

Estarrecido está o cidadão brasileiro com mais essa demonstração de desfaçatez e desprezo à moralidade, protagonizada por figuras que se movem nos porões assombrados pelo lixo do partido, que durante anos passou por donzela virtuosa em meio a rufiões da pior espécie.

A Polícia Federal tem o dever de esgotar todos os recursos cabíveis numa investigação desse jaez, apurando a verdade doa a quem doer, repassando o processo à Procuradoria-Geral da República para o oferecimento de denúncia contra os responsáveis pela patifaria.

Quando se esperava, em vão, diga-se de passagem, que o PT se redimisse do tremendo abalo causado pela promiscuidade malsã com aventureiros da estirpe de Marcos Valério, que lhe valeu a derrocada intestina e a atomização do chamado núcleo duro do governo, no lugar de Genoino, Delúbio e Silvinho, eis que surgem novos figurantes dos quais jamais se ouvira falar, agindo nas trevas para perpetrar devastadores ataques ao que restou de legitimidade ao grêmio gestado pelo ânimo participativo de operários das indústrias do ABC paulista.

Não se sabe se o momento é para rir ou chorar, sobretudo, pelo pressuposto tom de galhofa aninhado na declaração do presidente em Belém do Pará, quando tinha ao lado, no palanque, ninguém menos que o deputado federal Jader Barbalho (PMDB), ex-senador que renunciou ao mandato para não ser cassado por corrupção, entre outros cavalheiros de triste memória. Para cúmulo da dissolução de nossos costumes políticos, minutos depois, o prefeito de Floresta do Araguaia, Delvani Balbino da Silva, também do PMDB, ajoelhou-se aos pés do presidente e suplicou melhorias para o município perdido na selva amazônica.

De fato, aula magna de sociologia política, como há muito tempo não se via.

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