Ato teimoso e irresponsável

A falta de diálogo e a inabilidade do Ibama em buscar soluções para a região do entorno do Parque Nacional do Iguaçu resultou numa ação policial que transformou o centro da cidade de Capanema em cenário de guerra na noite de ontem, com saldo de dezenas de feridos nos hospitais da região, algumas prisões e outras ameaças de prisões. A população, que há anos está abandonada concentrou sua indignação e seus esforços em manter na sede do município uma balsa que seria destinada a ser monumento histórico dessa luta. Uma luta que não se esgota na abertura ou fechamento da estrada, pois ela é muito maior que isso.

As autoridades federais falharam gravemente em entender o problema e solucioná-lo de uma forma que não estremecesse as relações com a população. O presidente do Ibama, Marcus Barros, promoveu o maior desastre diplomático dessa história e um grande conflito, opondo os anseios dos moradores à preservação ambiental. Isso é suficiente para que o governo faça uma profunda avaliação sobre sua conduta. Insistindo em manter a decisão de apreensão e destruição da balsa, mesmo depois de a estrada do colono já ter sido desocupada, que era seu objetivo-fim, o presidente do Ibama cometeu um ato teimoso, irresponsável e impensado. Em vez de atuar como mediador da questão, concedeu declarações mentirosas e agressivas que incitaram o cerco da população à balsa.

Diferentemente do que foi oficialmente propagado, a população das duas regiões não é criminosa e muito menos inimiga do Parque Nacional do Iguaçu. Mas as autoridades, por não quererem entender isso, armaram um cenário de guerra para medir forças com a população e agravaram uma chaga profunda, que já vem de outros episódios.

A falta de diálogo levou a extremos de ambos os lados. A resposta à violência foi a própria violência. Condeno, com afinco, tais atitudes extremadas. Precisamos, agora, e esta será minha meta, vencer alguns desafios impostos pela busca de soluções. Todos nós, governo, sociedade e imprensa. E o principal compromisso é com a verdade. O governo, em especial, tem a responsabilidade de saldar uma dívida histórica com a população… uma dívida que cresce a cada ação impensada e autoritária como essa.

Precisamos encontrar caminhos para se promover a reconstrução dessas relações e que possibilitem uma relação harmoniosa com o parque, conjugada com o desenvolvimento local. As atitudes das autoridades, até aqui, foram desastrosas.

Como morador de uma comunidade a poucos quilômetros do local, onde se deu o conflito, quero reafirmar o compromisso de ser um canal de articulação entre governo e sociedade nessa reconstrução, valorizando a unidade e a determinação da nossa gente… Resgatando e defendendo nossos sonhos, nossa esperança, nosso trabalho, nossa união e elevando a auto-estima da população dos pequenos municípios do interior do País.

Assis Miguel do Couto

é deputado federal (PT-PR).

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