Atiçando o Leão

Diante das trombadas da articulação institucional do governo Lula, sobretudo com os partidos representados no Congresso Nacional, o que lhe valeu – enfim – o humilhante episódio da recusa da continuidade da cobrança do imposto do cheque, a oposição resolveu aproveitar os bons fluidos que sopram em sua direção e, ao que parece, encarar sem maiores temores o desdentado ogro governista.

Duas ações diretas de inconstitucionalidade (Adin) foram protocoladas pelo Democratas no Supremo Tribunal Federal (STF), a fim de caracterizar a repulsa do bloco oposicionista aos aumentos das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

No caso do IOF, o governo quer elevar em 0,38 ponto percentual o cálculo do imposto, fazendo com que a alíquota incidente sobre empréstimos e financiamentos feitos por pessoas físicas para a aquisição de casa própria, para citar o exemplo mais comezinho, seja elevada de 0,0041% para 0,0082%. Já a CSLL é cobrada das instituições do sistema financeiro e a mordida se alargará de 9% para 15%.

O primeiro argumento usado pela liderança do governo no Congresso, em particular, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), é que o Democratas está defendendo o lucro dos bancos, ao invés de trabalhar para garantir recursos para a educação, entre outros programas sociais do governo.

Atacado por súbita amnésia, ou pior, com os olhos vendados pelo mais repulsivo maniqueísmo de que os fins justificam os meios, sua excelência se esquece que há poucos meses o próprio presidente da República saudava com irreprimível contentamento o lucro estratosférico dos grandes bancos brasileiros.

Naquele momento, tudo era festa para Lula, que esnobou a incômoda pergunta sobre a montanha de dinheiro ganha pelos bancos, ao declarar que quanto mais os bancos lucrassem menos o governo teria de pensar na hipótese de um novo Proer, alfinetando o presidente FHC pelo socorro financeiro concedido por seu governo ao sistema bancário.

Não havia, então, a menor conjectura da área financeira em atiçar o Leão sobre os cofres abarrotados das referidas instituições que, ao longo de sua história, jamais ganharam tanto dinheiro quanto no mandato anterior de Luiz Inácio e no primeiro ano do atual.

O desconforto da enxaqueca presidencial se tornou tão agudo que Lula tomou a decisão de adiar as férias para fevereiro.

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