As mancadas do ministro

É impressionante o prestígio do presidente Lula. Ele, apesar das mancadas de alguns de seus ministros e a despeito de, heroicamente, com eles dividir os ônus desses tropeços, continua bem perante a opinião pública. Mas já esteve ótimo. Seu bom conceito vem sendo comido pelas bordas. A cada erro, com grande repercussão pública negativa, que é praticado por um seu auxiliar, Lula desce alguns pontos nas pesquisas. De vez em quando, cai um pouco também por conta própria, quando faz o contrário do que pregava como candidato. Mas aí há a incompreensão de muitos sobre os fatos ou a compreensão de alguns sobre as contingências a que está submetido como presidente. É mais fácil prometer do que cumprir.

Não são poucos os auxiliares de Lula que lhe causaram desgastes. Dos casos mais rumorosos foram aqueles dos ministros que usaram dinheiro público para viagens pessoais ou pegaram do caixa mais dinheiro do que de fato gastaram. E não se dispunham a devolver o troco. Lula perdoou a todos e ainda reiterou sua confiança neles. Mas o ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini, com aquelas boas intenções das quais o inferno está cheio, repete mancada após mancada. E as suas atingem muita gente. E atingem os aposentados e pensionistas, gente idosa, doente, carente.

Não há coração de pedra que não se constranja com a visão de uma fila de velhinhos, muitos deles mal se sustentando nas próprias pernas ou amparados por parentes e amigos, ficando horas e horas, às vezes passando a noite ao relento, para atender às mancadas de Berzoini, mesmo que ele tenha em sua defesa as boas intenções que revela. E em seu apoio, a confiança reiterada de Lula. Foi assim com as filas dos velhinhos para provarem ao INSS que estão vivos e não estão sendo pagos proventos de inatividade ou pensões a fantasmas. Foi assim no caso do ingresso de ações judiciais para receber diferenças de proventos de aposentadorias já reconhecidas pelos tribunais e que o INSS não honra “exponte própria”.

Em ambos os casos, a grita foi tão grande e as imagens, levadas ao público pelos meios de comunicação, tão constrangedoras, que Berzoini foi obrigado a voltar atrás. Deu mais prazo aos aposentados e pensionistas e alargou o tempo para a própria Previdência fazer o que não faz: manter atualizados seus cadastros, sabendo com segurança qual a sua clientela. No caso das diferenças de proventos, melhor faria se as pagasse, dispensando ações judiciais, pois decisões em favor da clientela previdenciária já existem. Em todos os casos, fica evidente uma coisa: Berzoini está mais preocupado com o dinheiro da Previdência do que com os seus beneficiários. Como se fosse dinheiro do governo para os governantes e não para aposentados e pensionistas.

Agora, o ministro acaba de voltar atrás em mais uma mancada. Referimo-nos à absurda portaria que obrigava a todos os aposentados e pensionistas que recebem mais do que a ninharia de R$ 720,00 a terem contas bancárias a partir de janeiro, sob pena de não receberem. Alegou mais segurança para os beneficiários e outras vantagens hipotéticas, mas na verdade tentava beneficiar os bancos, que teriam milhares de novas contas. E a cobrança de taxas bancárias a aposentados e pensionistas, além de CPMF, reduzindo ainda mais seus parcos proventos. Berzoini acaba de revogar a portaria, dizendo que o fez por pressão da oposição no Congresso. Politicamente, mais uma mancada.

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