As causas dos horrores do nosso tempo

No livro ?Horror Econômico?, Viviane Forrester diz que vivemos em tempos de aumento da produtividade e de redução de custos. Tempos de flexibilidade e de programas de reengenharia da produção. Tempos de flexibilidade das relações de trabalho, terceirização, subcontratação de mão-de-obra e de precarização – que nos levaram aos tempos do desemprego, informalidade, baixos salários, trabalho escravo e infantil, assédio moral e de acidentes de trabalho. Tempos que levaram à concentração da riqueza, da terra, crise urbana e aumento da criminalidade – fruto da migração de 1,5 milhões de trabalhadores e pequenos proprietários para o meio urbano, no Paraná, por falta de apoio à agricultura familiar e do empobrecimento causado pela recessão – em que os trabalhadores agora vivem em empregos terceirizados ou em trabalhos de terceira categoria. Sentindo os efeitos que o livro ?A Corrosão do Caráter?, mostra como conseqüência da mobilidade e o fim do vínculo com a empresa e os amigos de trabalho, como nos ensina Richard Sennett.

Mas no livro ?Horror Político?, que Jacques Genereux escreveu discordando de Viviane Forrester, nos leva a entender que vivemos estes tempos pela falta de democracia, em razão dos sistemas partidários, eleitorais e parlamentares – tendo como conseqüência os políticos aprovando políticas públicas com interesses eleitorais, às pressas sem visão de longo prazo, que beneficiam só alguns, levando ao aumento da dívida pública interna, externa e a distorções sistêmicas das mesmas. Dívidas que foram fruto de investimentos, créditos e inventivos fiscais para poucos, criando o patrimônio de muitos com o perdão das mesmas.

Tempos que aqui se beneficiou de um sistema financeiro e bancário, privatizou e aumentou tarifas, onerando o setor produtivo e o povo – que está sentindo no bolso com as concessões do pedágio. Tempos em que o Estado foi saqueado e ficou sem capacidade de investimento, pois deixaram uma divida pública, que serviu para engordar patrimônios pessoais, e agora somos nós que temos que pagar e amortizar estas dívidas – por isso pagamos carga tributária, juros altos e temos moeda forte. E ainda nos transformaram em quintal, como exportador de matéria-prima, com a Lei Kandir, não agregando valor aos orçamentos públicos.

Tempos em que se construiu um déficit previdenciário, fruto de desvios de finalidade e aposentadorias, conseguidas por meios legais ardilosos onde uma minoria consome a maior parte dos recursos previdenciários e se garantem por existir o direito adquirido. E é urgente se fazer uma auditoria nestas aposentadorias absurdas que sustentam uma minoria, enquanto a maioria padece com aposentadorias de pequeno valor.

Tempos em que se ampliaram estruturas públicas desnecessárias, como a criação de mais de 1.200 municípios desde 1988, sendo que precisávamos apenas ampliar os serviços e equipamentos públicos, ao invés de estruturas de poder que só servem para aumentar o custo para pagamento de pessoal e custeio, enquanto o objetivo final acaba prejudicado, o que demonstra a urgência da Reforma do Estado brasileiro.

Por isso não basta dizer que os problemas são os juros, carga tributária ou câmbio, sem antes dizer as causas. Afinal, os tempos de falta de democracia nos levaram à desqualificação política de hoje, devido à morte e afastamento de brilhantes democratas e liberais. E, como heranças, nos deixaram um país com 14% de analfabetos, 57% da população com menos de oito anos de escolaridade, ou 80% da população com menos de onze anos de escolaridade, milhões abaixo da linha de pobreza, e ao abandono de políticas sociais e de saúde.

Tempos que estão mudando graças à democracia e o controle social, com a geração de milhares de empregos formais, fruto das novas políticas sociais e aumento da renda, da diminuição da carga tributária, dos investimentos sociais e em infra-estrutura e da mudança da cultura dos bancos, que passaram a dar crédito aos pequenos e não só para os grandes. Confirmando o que nos ensina o Prêmio Nobel de economia Josef Stigliz, em sua obra premiada, que o crédito e sua popularização são fatores fundamentais para o crescimento e geração de emprego e renda.

E a maioria da população está reconhecendo essas mudanças de tempos, e querem que continue e não voltemos aos velhos tempos. Pois, como nos ensina o pensador liberal Friedrich Hayek, o melhor meio de comunicação é o sistema de preços. E se a maioria está reconhecendo é porque os preços baixaram, o poder aquisitivo melhorou, mais empregos foram gerados – sendo fruto das políticas fiscais, de investimentos, de crédito e sociais para todos e não para poucos como eram naqueles tempos.

Geraldo Serathiuk é Delegado Regional do Trabalho do Paraná.

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