Apoio condicionado

De 2 a 11 deste dezembro, o presidente Lula estará no Oriente Médio. Vai vender o Brasil – no bom sentido, é claro -, e espera-se que não fale muitas coisas de improviso para não repetir gafes cometidas na África. O período não é dos mais tranqüilos, nem lá, nem aqui entre nós, mas o presidente entende que já está tudo acertado e que cada brasileiro cumprirá com responsabilidade a sua parte neste final de ano de fraco Papai Noel. Principalmente ministros e deputados. Os parlamentares – disse Lula na abertura da Conferência Nacional de Aqüicultura e Pesca, em Goiás – até agora fizeram tudo o que foi pedido. É seu motivo de particular orgulho…

Excetuando-se o fato de que ao parlamento compete fazer mais a vontade do povo que do governante de plantão (o orgulho deveria ser nosso, portanto), Lula não estaria errado em se dar ao luxo de mais essa folga. Precisa preparar-se para os embates do ano que vem, que já prometem ser muito duros e cheios de imprevistos e de anunciadas caravanas. Não é à toa que José Genoino, presidente do partido mandante, já ousou dizer que não haverá moleza aos candidatos oposicionistas que subirem no palanque eleitoral municipal para eventuais críticas ou análises mais fundas do governo do PT. “Vamos fazer uma campanha propositiva, mas que não atirem a primeira pedra, porque não daremos a outra face.”

O anúncio da adoção do estilo bateu-levou é uma resposta às também anunciadas táticas de luta do PSDB, capitaneado pelo candidato derrotado José Serra. Como num campo de batalha, a disposição dos generais nos faz supor que teremos um embate municipal com “dimensões federalizadas”. E isso prejudica os municípios, onde a esperança míngua, e não ajuda a União, de onde o medo não se desinstalou nesses primeiros onze meses de governo. O PT sabe disso e deu ordem para reunir todas as forças possíveis e disponíveis para a nova etapa da guerra pelo poder.

É talvez dentro dessa ótica que surge a primeira novidade nas hostes petistas: a trégua anunciada do MST – Movimento dos Sem Terra ao governo, defendida por lideranças até aqui combativas, como José Rainha. Até ontem ele estava preso e hoje já se encontra em campanha ao lado da também ex-presidiária mulher Diolinda, para quem “Lula é um ótimo presidente e vai ser reeleito”. Agora, segundo o casal declarou na visita de agradecimento que fez ao presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo, e outros padrinhos seus, existe um plano de reforma agrária, de um governo popular que “levamos 500 anos para eleger neste País”. E invasão, até aqui recurso ordinário, é apenas “uma forma de negociação, de resolver. Se tem outra, vamos usar”…

No mesmo tom pacificador, vem a CNBB – Conferência dos Bispos do Brasil, cujo presidente, dom Geraldo Majella Agnelo, sentencia: “Desde que não se trate apenas de um projeto de distribuição de terras – disse o prelado – a entidade apóia plenamente o Plano Nacional de Reforma Agrária recentemente lançado.” “Justa e pacífica, ampla e profunda”, uma reforma agrária “acompanhada de uma política que dê apoio à pequena e média produção e à agricultura familiar, pode aliviar simultaneamente grandes problemas do País, como o desemprego, o acúmulo de terras improdutivas, o êxodo rural e a fome”, escreveu dom Geraldo. O ministro Miguel Rosseto, do Desenvolvimento Agrário, está comemorando: “A CNBB vai somar esforços para concretizar a justiça social no País”.

Há que se ler de boa forma, entretanto, o que ficou escrito em nome da justiça: distribuir terra pode virar coisa parecida com o distribuir comida – objetivo central do fracassado programa Fome Zero. E isso não alivia nossos males, como bem diz o bispo em seu condicionado apoio. Que a trégua anunciada não seja apenas um argumento eleitoral.

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