Apicultura busca mercados alternativos

A cadeia produtiva da apicultura envolve cerca de 350 mil pessoas no Brasil, sendo a maioria de pequenos produtores. Segundo a Confederação Brasileira da Apicultura (CBA), a produção nacional é de cerca de 40 mil toneladas, levando o País ao 5.º lugar no ranking de produtores mundiais. Mas estima-se que essa produção poderia ser de até 200 mil toneladas/ano.

O baixo consumo interno do mel no País, no entanto, levou o Brasil a exportar, em 2004, 65% do que foi produzido. Um dos principais mercados consumidores do mel brasileiro, a União Européia, impôs no dia 17 de março deste ano um embargo ao produto do Brasil, alegando falta de controle e monitoramento de resíduos e contaminantes. A decisão do bloco econômico, que até então absorvia de 70% a 80% das exportações brasileiras de mel, começa a mudar o destino da produção nacional. Apicultores, indústrias e empresas, que investiram na exportação para os países europeus, estão tentando buscar mercados alternativos para escoar a produção.

O presidente da Associação Brasileira de Exportadores de Mel (Abemel), José Henrique Fernandes Faraldo, afirma que o embargo foi feito sem ?aviso prévio?, pegando exportadores e importadores de surpresa. Ele conta que, desde 2003, a União Européia vinha mantendo negociações com o governo federal para a adequação das normas de controle da qualidade do mel exportado. Mas o setor produtivo não imaginava que as exigências não vinham sendo atendidas como o esperado pelos europeus.

?Os impactos dessa decisão são grandes. O setor investiu na comercialização para a União Européia. Agora, com o embargo, estamos transferindo o comércio para os Estados Unidos, o que implica em preços mais baixos?, explica Faraldo.

O presidente da Abemel conta que houve uma redução de cerca de 40% nos preços do mel orgânico exportado. ?Os Estados Unidos sabem que temos o produto e não temos mercado. Estamos extremamente vulneráveis. Não há espaço para negociação?, lamenta.

O mais agravante, completa, é que os preços mais baixos das exportações representam menor remuneração aos apicultores, queda da renda, o que implicará em menores investimentos no setor e conseqüente redução na produção nacional.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) reconhece que os prejuízos, principalmente aos pequenos produtores, podem ser grandes se a medida não for revertida a tempo. Depois de incluir o mel no Programa Nacional de Controle de Resíduos Biológicos para 2006 (PNCR), o Mapa elaborou, juntamente com o setor privado, um plano de ação com informações sobre as práticas produtivas e medidas que podem ser adotadas para o maior controle da qualidade do mel e aguarda uma resposta da União Européia.

De acordo com o coordenador de Resíduos e Contaminantes da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, Adauto Lima Rodrigues, o mel está contemplado no PNCR desde 2002. No entanto, havia uma restrição analítica, pois não existia no País nenhum laboratório com a técnica para algumas análises específicas do mel exigidas pelos importadores. ?Não estávamos tendo a celeridade para fazer as análises necessárias?, reconhece o técnico do Mapa.

A proposta que foi encaminhada aos europeus tenta resolver essas pendências para que o embargo seja suspenso. Rodrigues conta que o Sebrae tem sido parceiro nessas negociações, dispondo-se, inclusive, a arcar com 50% das despesas financeiras das análises para monitoramento de resíduos e contaminantes do mel.

O Sebrae atualmente desenvolve e apóia projetos de apicultura em 423 municípios do País, dentro da Rede de Apicultura Integrada e Sustentável (Rede Apis). Ao todo, são beneficiados 12.886 apicultores de 22 estados brasileiros, 290 associações e cooperativas, com uma produção atual de 9 mil toneladas de mel.

Números do trimestre

Apesar do embargo, as exportações do primeiro trimestre deste ano para a União Européia somaram US$ 6,01 milhões, o que representa um incremento de 49,11% em relação ao mesmo período de 2005. Os dados constam de estatística elaborada pela Unidade de Atendimento Coletivo Agronegócios e Territórios Específicos do Sebrae Nacional, com base em dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Somente as vendas para a Alemanha, maior mercado consumidor do mel brasileiro dentro da Europa, somaram US$ 4,077 milhões no primeiro trimestre do ano, o que representa cerca de 50% das exportações brasileiras para aquele país em todo o ano de 2005 (US$ 8,1 milhões).

Para o presidente da Abemel, as exportações do primeiro trimestre ainda não refletem o embargo, que entrou em vigor em meados de março. Além disso, lembra, a base de comparação não é boa. Segundo ele, a safra de 2005 foi muito ruim e, por isso, o volume exportado foi menor. Os números do setor mostram que, em 2004, as exportações alcançaram 21 mil toneladas. Já em 2005, totalizaram 14,4 mil toneladas.

A avaliação do coordenador nacional da Rede Apis do Sebrae, Reginaldo Barroso de Resende, é que as exportações dos primeiros três meses do ano ainda são resultado de contratos firmados anteriormente ao embargo. ?A perspectiva é de uma drástica redução das nossas exportações de mel nos próximos meses, face à forte dependência do mercado europeu?, afirma.

Exportadores esperam fim do embargo

No Ceará, a empresa Cearapi está no mercado, desde 1998, trabalhando principalmente com mel orgânico, e 75% da sua produção são destinados à exportação. As vendas externas da empresa representam 13% das exportações de mel do País.

De acordo com o sócio-diretor da Cearapi, Paulo Seixas Levy, o embargo europeu ao mel brasileiro afetou bastante os negócios da empresa, que tinha a União Européia como principal mercado consumidor. ?Houve uma redução grande nas vendas de cerca de 60%.?

Levy estima que a proibição só será suspensa em setembro deste ano, quando o comitê da União Européia voltará a se reunir para então deliberar sobre o caso. Segundo ele, a produção não tem como ser absorvida pelo mercado interno. No caso da Cearapi, o empresário diz que está sendo feito um esforço grande para aumentar as exportações para os Estados Unidos, Canadá e Oriente Médio.

Em Içara (SC), a empresa apícola Minamel teve sorte em começar a diversificar o seu mercado consumidor já no ano passado. O sócio-proprietário da empresa, Agenor Sartori Castagna, conta que a Minamel chegou a exportar até 80% da produção para o mercado europeu. No entanto, no ano passado, com a queda acentuada do dólar, a empresa começou a mudar o foco de atuação e valorizar o consumidor nacional. ?Hoje, conseguimos sobreviver com o mercado interno?, conta Sartori.

A empresa não abandonou as exportações. Cerca de 20% da produção têm como destino os Estados Unidos, mas o forte mesmo agora é o mercado interno. ?A gente percebeu que foi um erro depender tanto das exportações?, avalia o empresário. O segredo para conquistar o consumidor brasileiro, revela Sartori, é ter um produto de qualidade e diversificar a linha de produção, com criatividade.

O sonho de Sartori é fazer um grande movimento no País pelo aumento do consumo de mel pela população brasileira. ?Se o consumo brasileiro de mel per capita fosse de 200 gramas por ano, haveria mercado suficiente para absorver toda a produção nacional?, afirma. Atualmente, o consumo per capita de mel no Brasil não passa de 60 gramas por ano.

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