Brasília – Pelo menos dois assessores parlamentares do PP e do PL, além do próprio publicitário mineiro Marcos Valério de Souza, suspeito de ser o operador do "mensalão", estiveram na pequena agência do Banco Rural de Brasília nos últimos dois anos. A informação provém do sistema eletrônico de identificação do Brasília Shopping, que controla o acesso às torres do prédio. O escritório do Rural teria servido como ponto de coleta ou pagamento do "mensalão", segundo informou o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) à CPI dos Correios.
Um dos assessores que freqüentou a agência, especializada em atender "pessoas jurídicas" (empresas), foi João Cláudio de Carvalho Genu, apontado por Jefferson como sendo o homem encarregado de distribuir o dinheiro para os parlamentares do PP Genu trabalha para o deputado José Janene (PP-PR) e se identificou na recepção do Brasília Shopping no dia 20 de janeiro de 2004, informando que buscava pela agência do Rural, no 9.º andar.
O outro funcionário da Câmara que também foi identificado pelo sistema eletrônico do shopping é Eujaci Moreira dos Santos, que assessora o deputado João Leão (PL-BA). Ele teria comparecido à agência do Rural por duas vezes: 15 de dezembro de 2003 e 19 de maio de 2005.
Hoje o presidente dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), requisitou à gerência do shopping uma cópia da lista de pessoas que tiveram acesso ao prédio desde o início de 2003. As suspeitas sobre o envolvimento do Rural é reforçada pelo fato de que o do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) registrou R$ 20,9 milhões de saques em dinheiro superiores a R$ 100 mil das contas do publicitário no banco mineiro. "É uma denúncia grave que vamos avaliar. Já apresentei requerimento para coletar todas as pessoas que tiveram acesso ao prédio", disse Delcídio.
Pelos dados aos quais o Estado teve acesso, Valério esteve na agência do Rural em Brasília no dia 19 de agosto de 2003 às 14h57min. Nesse mesmo dia os registros Coaf mostram um saque de R$ 150 mil de sua conta no Rural de Belo Horizonte.
A torre onde fica o escritório do Rural na capital federal é separado por apenas uma avenida do prédio em que fica a sede nacional do PT, no Edifício Varig. Ao contrário da gerência do Brasília Shopping, a administração do Edifício Varig se negou a informar o nome de qualquer pessoa que já tenha freqüentado o 7º andar. Os computadores da portaria, entretanto, indicam que Valério já esteve na sede do PT quatro vezes desde o último dia 6 de abril.
Para buscar mais indícios de envolvimento de parlamentares com o "mensalão", os técnicos da CPI dos Correios deverão cruzar o banco de dados do shopping, que registra o nome e o RG das pessoas que lá estiveram, com os registros de todos os funcionários da Câmara que trabalham nos gabinetes parlamentares
hoje o gerente do Rural em Brasília, Lucas Silva Roque, que na véspera confirmara ao Estado a presença em sua agência de "pessoas que negociavam com ele (Marcos Valério)", foi convocado às pressas pela cúpula do banco para se apresentar à sede em Belo Horizonte. O escritório passou a maior parte do dia sem qualquer gerente, apenas uma assessora de imprensa de plantão.
Segundo o presidente da CPI, ainda não é necessário convocar o gerente da agência do Rural em Brasília para prestar esclarecimentos, mas a oposição não concorda. "É indispensável ouvi-lo com a maior rapidez. Na terça-feira vou pedir a convocação dele", disse o deputado Onyx Lorenzoni.
No seu depoimento, Jefferson sugeriu à CPI conferir os "recibos que o banco manda assinar" no momento da retirada do dinheiro. Segundo o petebista, o esquema do mensalão do governo garantia pelo menos R$ 30 mil por mês para deputados que votavam com o governo. Inicialmente, explicou Jefferson, o dinheiro chegava ao Congresso em malas. Mas depois, passou a ser pago na própria agência do Banco Rural de Brasília.