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O desmatamento na Amazônia pode ser pouco mais que o dobro do anunciado pelo governo. O alerta foi feito nesta quarta-feira pelo pesquisador Antônio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), durante o segundo dia da 3.ª Conferência do LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia), em Brasília.

Citando números inéditos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), coletados nas duas últimas semanas, Nobre afirmou que estão sendo desmatados mil quilômetros quadrados de floresta por semana.

“Isso dá 52 mil quilômetros quadrados de floresta destruída por ano – calculou Nobre, lembrando que, segundo as últimas estatísticas oficiais divulgadas, foram desmatados cerca de 24 mil quilômetros quadrados de floresta no ano passado. Sei que estamos numa época de pico do desmatamento, mas ainda assim o número é assustador, não era para estar sendo derrubada nenhuma árvore”, disse o pesquisador.

Desmatamento na Amazônia pode afetar rios

Entender melhor os mecanismos que regem a floresta amazônica na área de hidrologia de superfície, antes de transformá-la em pastagens, é o tema de um dos estudos do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da Universidade de São Paulo (USP).

Algumas conclusões do levantamento foram apresentadas pelos pesquisadores Reynaldo Victoria e Alex Krutsche no último dia da 3.ª Conferência Científica do LBA – Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia, em Brasília.

Segundo os cientistas, o efeito mais significativo provocado pelo desmatamento de pequenas bacias sem que seja mantida uma área de mata ciliar é a queda do nível de oxigênio dissolvido. A retirada da floresta provoca o crescimento acelerado das gramíneas nativas, devido à inexistência de barreiras (árvores) e de sombra.

A morte dessa vegetação consome oxigênio das águas, reduzindo o nível a zero, em algumas situações. Esse efeito – ainda não conclusivo se expandido em média e larga escalas – faz com que espécies que necessitam de oxigênio para sobreviver morram ou migrem para outras regiões.

50% da biodiversidade perdidos

A floresta secundária, que cresce sobre uma área desmatada, jamais será igual à floresta primária, em termos de biodiversidade. A afirmação é dos pesquisadores Eric Davidson, da Woods Hole Research Center, e Plínio Barbosa de Camargo, da Universidade de São Paulo (USP).

Eles fizeram ontem a apresentação Degradação de Pastagem, Desenvolvimento da Floresta Secundária e Produtividade da Floresta Madura: Os Nutrientes são Importantes? Segundo os cientistas, embora a floresta secundária tenha papel fundamental no que diz respeito aos efeitos climáticos, em termos de biodiversidade, o novo ecossistema tem até 50% menos espécies em relação ao cenário original. O tempo de recuperação da floresta depende da intensidade do uso do solo durante o período de ocupação.

Ciclos de corte e queima provocam perdas de nutrientes difíceis de reparar. Em algumas áreas desmatadas, por exemplo, há necessidade de uso de fertilizantes. O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) é o responsável pelo gerenciamento do projeto LBA, enquanto o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), responde pela coordenação científica, o que inclui coordenar o trabalho de 288 instituições parceiras.

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