O anúncio do plano do presidente George W. Bush de mandar mais 21.500 soldados para o Iraque ressuscitou nos EUA a discussão sobre o alistamento obrigatório. O Exército americano está exaurido – por falta de efetivos, os soldados do Iraque trabalham sem parar e muitos tiveram seu tempo de serviço compulsoriamente estendido. Apesar dos vários atrativos oferecidos aos voluntários, como bolsas escolares, as Forças Armadas não têm conseguido atingir as metas de recrutamento.

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O deputado democrata Charles Rangel afirmou que vai reapresentar ao Congresso sua proposta de volta do alistamento obrigatório. Para Rangel, com o alistamento obrigatório as Forças Armadas teriam um efetivo com maior diversidade econômica e racial – o número de soldados negros e hispânicos atualmente no Exército, por exemplo, é maior do que o de outras comunidades se comparado proporcionalmente com sua presença na população geral dos EUA. Além disso, a obrigatoriedade serviria para desestimular futuros governos de declararem guerras fúteis, já que os filhos dos políticos poderiam ser convocados.

Mas o alistamento obrigatório é tabu no país, uma ferida aberta desde a Guerra do Vietnã. Após intensos protestos populares contra o alistamento obrigatório, o chamado "draft", o presidente Richard Nixon instituiu em 1973 o Exército voluntário. Os célebres economistas neoliberais Milton Friedman e o ex-presidente do Federal Reserve Alan Greenspan integraram a comissão que sugeriu não estender o alistamento obrigatório.

O "draft" sempre foi polêmico. Durante a Guerra Civil americana, por exemplo, era possível pagar para não lutar ou contratar um substituto. Portanto, só pobres se viam sem escolha. A partir da 1ª Guerra Mundial, essa possibilidade foi extinta. Durante a Guerra do Vietnã, os universitários podiam pedir um adiamento na convocação. Como resultado, a maioria dos soldados na linha de frente era convocada obrigatoriamente entre jovens, pobres, que não estavam na faculdade. Os negros, que eram só 11% da população americana, representaram 15% das baixas da guerra.

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O movimento de resistência ao alistamento obrigatório nos anos 60 e 70 era apoiado por estudantes, pacifistas, padres e movimentos de direitos civis. A forma mais comum de resistência era a evasão – entre 1964 e 1973, 26,8 milhões de americanos atingiram a idade de convocação, mas 60% não serviram no Exército.

Cerca de 15 milhões conseguiram adiar sua convocação legalmente, enquanto 500 mil simplesmente fugiram do alistamento. Muitos recorriam à chamada objeção consciente – alegavam objeções morais ou religiosas para não servir.

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Entre 1965 e 1975, o governo prendeu 4 mil pessoas que haviam fugido da convocação. Hoje, os EUA têm cerca de 1,4 milhão de soldados na ativa, mais 1 milhão na reserva.