Aldo reclama de isolamento na defesa do reajuste

Com a imagem arranhada por causa do empenho em garantir um reajuste salarial de 90,7% para os parlamentares, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), reclamou hoje do comportamento dos senadores. Pela primeira vez, Rebelo admitiu publicamente que ficou sozinho na defesa da elevação para R$ 24 5 mil dos subsídios dos deputados e senadores, apesar da decisão ter sido tomada em conjunto com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

"Eu não fiquei sozinho. Eu, pelo menos, espero que tenha contado com a companhia de Deus", disse Rebelo, ao reconhecer que foi um erro insistir em um reajuste de 90,7% para os parlamentares. Amigo de longa data de Calheiros, o presidente da Câmara evitou fazer críticas diretas a seu conterrâneo – apesar de Rebelo se eleger por São Paulo, seu Estado natal é Alagoas. "Há um clima de cordialidade, de respeito e de independência como deve ser a relação entre as duas Casas", afirmou Rebelo.

Desde o início da semana, Renan Calheiros deixou Rebelo sozinho na defesa do reajuste para os parlamentares. Enquanto o presidente da Câmara dava entrevistas a favor do aumento, o peemedebista confidenciava a interlocutores que seria melhor submeter o reajuste a voto dos plenários da Câmara e do Senado. Na quinta-feira passada, Calheiros deu aval ao aumento de R$ 24 5 mil para os salários dos parlamentares por meio de um ato das Mesas da Câmara e do Senado.

Hoje, Calheiros não escondeu sua disposição de lavar as mãos e jogar todo o desgaste político do reajuste para a Câmara. Ele cancelou a reunião que faria com os líderes partidários do Senado para discutir um projeto de decreto legislativo que fixaria o valor dos salários dos parlamentares. "Temos de organizar a votação o mais rapidamente possível. Mas a iniciativa do projeto com o aumento é da Câmara dos Deputados", alegou o presidente do Senado. "O teto salarial é para moralizar. Mas não pode continuar essa distorção: você ter um teto de mentirinha e as pessoas ganharem muito mais do que o teto de R$ 24,5 mil", observou. Calheiros argumentou ainda que há uma grande dificuldade de unir os três Poderes para o estabelecimento de um teto salarial único.

Para o líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS), o comportamento de Renan Calheiros no episódio do reajuste foi "infeliz". "Todo parlamentar brasileiro deveria assumir com coragem suas posições. Todos têm de assumir uma posição: desde o deputado menos conhecido até os presidentes da Câmara e do Senado", argumentou Fontana. "O Renan não foi solidário com o Aldo, quando sentiu que a repercussão na sociedade foi violenta" disse o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). "Ele (Renan) estava na reunião que decidiu pelos R$ 24,5 mil. Mas, mais uma vez, usou sua sagacidade política", alfinetou Alencar.

Bombardeado ao longo da última semana, Rebelo reconheceu pela primeira vez que errou ao insistir no reajuste de 90,7% para os salários dos parlamentares. Mas observou: "Não vejo problema nenhum em reconhecer erros. O problema é quando você erra e persiste no erro. Se a mesa da Câmara e do Senado com o apoio dos líderes apresentarem uma proposta, ela tem de ser corrigida. Eu não vejo problema em que haja esta correção. Eu vejo problemas quando as pessoas não aprendem com os erros, principalmente quem tem a incumbência de representar o povo".

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