Água na fervura

O presidente Lula, cheio de boas intenções e recheado de argumentos, falou a cerca de quinhentos empresários norte-americanos que o Brasil ?é um bom negócio?. Seu objetivo é atrair investimentos diretos, abandonando de vez o empoeirado nacionalismo, que considerava o capital estrangeiro, mesmo o que aqui viesse para se instalar, produzir, gerar impostos e empregos, uma exploração inaceitável. Para convencer seu seleto e capitalizado auditório, o presidente brasileiro disse: ?Estamos aqui para conversar, para mostrar o que estamos fazendo, para falar com vocês sobre o que temos feito e para convencê-los de que o Brasil é um bom negócio para quem fizer bons investimentos?. Para provar isso, revelou a agenda de reformas, o desejado crescimento sustentável, a PPP (Parceria Público-Privada) e as oportunidades para investimentos no Brasil. O objetivo da missão brasileira foi reverter a queda de investimentos estrangeiros que hoje se verifica no Brasil.

Os investimentos diretos no Brasil somaram US$ 22,4 bilhões em 2001. No ano seguinte, caíram para US$ 16,5 bilhões e, em 2003, primeiro ano da administração petista, reduziram-se para apenas US$ 10,1 bilhões.

O Brasil precisa de aplicações diretas estrangeiras, à falta de suficientes capitais internos. Precisa mais ainda porque é um país em desenvolvimento, com fortes conotações de subdesenvolvido. Ambiciona o desenvolvimento sustentado, mas este, se vier a ser alcançado, não pode prescindir de elevados investimentos de fora.

A maior fonte de capitais estrangeiros para investimentos no mundo são os Estados Unidos. É o país que mais investe e, também, o que mais pode atrair investimentos. Por mais de quatro anos, manteve uma taxa de juros de apenas 1% ao ano. Uma política para incentivar o consumo e manter sua economia aquecida, diante de ameaças de recessão. Esse 1% contrasta com os altos juros pagos no Brasil, que caíram de bem acima de 20% para 16%, mas ainda assim são elevadíssimos.

Ocorre que, de tudo o que Lula prometeu, nada ainda foi realizado. O Brasil compete no mundo captador de investimentos como um país de risco e, por isso, tem de pagar muito alto o capital obtido, para que os investidores entendam que compensa aqui aplicar. O Fed, banco central norte-americano, depois de tanto tempo com juros de 1%, começou uma carreira ascendente, fazendo a primeira elevação, para 1,25%. Uma pequena alta, porém suficiente para chamar a atenção do mercado financeiro internacional. Se subiu agora, poderá continuar a subir, mesmo que gradativamente. E, para a maioria dos grandes investidores, é melhor pôr o dinheiro no certo que no duvidoso, mesmo que ganhando menos. Segurança primeiro, depois a rentabilidade. Em especial se desconfiarem que há risco político nos destinos de suas aplicações.

Lula enfrenta um dos efeitos indescartáveis da globalização, o dos fluxos de capitais. Na hora em que mais precisamos de investimentos, a nova política norte-americana, que visa evitar a inflação naquele país e tentar salvar a candidatura Bush à reeleição, nos ameaça.

O remédio é não mais prometer, mas fazer. Precisamos tirar do papel e passar para a prática os planos expostos aos investidores. Necessitamos mostrar um Brasil confiável, pois um investidor não dá a mínima para o que não seja, em suas aplicações, garantia e rentabilidade.

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