Acabaram com minha profissão

Quando estava fazendo o segundo grau, resolvi fazer um teste vocacional só por brincadeira. Coincidência ou não, entre as profissões em que me encaixava, estava jornalismo. Como gosto de escrever, pensei, por que não? Então fiz minha inscrição no vestibular para comunicação social. Passei na PUC e, após quatro anos, concluí o curso.

Na colação de grau muito orgulho dos pais, amigos e parentes. Quando o coordenador do curso chamou meu nome, me levantei e ouvi “outorgo-lhe o grau de bacharel em comunicação social”. Que maravilha, agora tinha uma profissão. Peguei meu diploma e mergulhei de cabeça no mercado profissional. Algum tempo depois consegui ser contratado pela Editora O Estado do Paraná, onde estou até hoje.

Só que, desde o dia 10 de janeiro, estou sem profissão. Tudo porque uma juíza achou que para ser jornalista não é mais preciso ter diploma. Agora, qualquer pessoa que queira pode requerer seu registro como jornalista, sem sequer ter passado por uma universidade.

Além de “extinguir” minha profissão, essa juíza, que não sei de onde tirou essa idéia de jerico, acabou com o sonho de muitos jovens. Isso sem falar no prejuízo financeiro. Como a “distinta” juíza imagina que estão se sentindo os alunos dos diversos cursos de jornalismo espalhados pelo Brasil? O que eles devem estar pensando? Estamos gastando dinheiro e tempo num curso que não tem mais nenhuma finalidade. E quem acabou de passar no vestibular? Como é que fica?

E a invasão do mercado, que já é escasso, por aventureiros? O que vai aparecer de “jornalista” por aí, não vai ser brincadeira. E quanto àqueles que penaram quatro anos estudando, vão ter que enfrentar a deteriorização dos salários e a concorrência desleal.

E quanto à qualidade e credibilidade das informações que serão despejadas pelos meios de comunicação? Como o leitor, ouvinte ou telespectador vai poder confiar naquilo que estiver recebendo, se quem produzir as notícias não terá a mínima qualificação para isso? É o mesmo caso de alguém com dor de dente procurar um açougueiro para se tratar.

Ainda bem que essa decisão “inteligente” cabe recurso e eu torço para que numa instância superior prevaleça o bom senso. Acho que o verdadeiro sonho dessa “brilhante” juíza seja ser jornalista. E, para conseguir realizá-lo, ela “encurtou” o caminho. Assim, basta que ela se dirija a um sindicato e requeira seu registro. Depois disso é só arrumar um emprego e passar para todos suas “maravilhosas” idéias.

Carlos Henrique Bório

(esportes@parana-online.com.br)- editor adjunto de Esportes

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