Abaixo os bichos do Paraná

Como já dizia o saudoso Jamil Snege, para tornar-se completamente invisível em Curitiba, basta ter talento. Mas um talento genuíno. Seguindo o mesmo raciocínio, para passar despercebido no Brasil, basta ser paranaense. Pobres de nós, caipiras espremidos entre a pujança paulista e o insuperável orgulho gaúcho. Encontramos enorme dificuldade para nos fazer notar.

De nada adianta sermos o maior produtor de grãos do Brasil, responsáveis por 22,5% da supersafra de 120,2 milhões de toneladas deste ano. Ou produzirmos boa parte da energia elétrica consumida no País. Ou contarmos com o segundo parque automotivo, atrás apenas do ABC paulista.

Nossa representação política é pífia (em que pese o bom trânsito do governador Roberto Requião no governo Lula), não chegando nem perto do poder de barganha das oligarquias nordestinas. Nos esportes, invariavelmente temos que brilhar em campos, quadras e piscinas alheias para nos destacarmos.

O mesmo acontece no mundo das artes e espetáculos. O curitibano Ary Fontoura consagrou-se no Rio de Janeiro, o londrinense Arrigo Barnabé precisou bandear-se para São Paulo, a iratiense Denise Stoklos teve que correr o mundo, e assim sucessivamente com Herson Capri, Luís Melo, Simone Spoladore, Ranieri Gonzalez e outros tantos.

Um exemplo gritante da nossa total incompetência no terreno da auto-promoção é a repercussão nula do nosso representante no Festival de Gramado. Sim, o Paraná, personificado pelo diretor Paulo Morelli, possui um longa-metragem concorrendo a um kikito em agosto na Serra Gaúcha.

E não é qualquer filminho, não. O Preço da Paz tem no elenco ninguém menos que o já citado Herson Capri, e mais Lima Duarte, José de Abreu, Danton Mello, Giulia Gam e Camila Pitanga. No filme Capri encarna Ildefonso Pereira Correira, o Barão do Serro Azul, empresário paranaense fuzilado pelo exército florianista em 1894, sob a acusação de ter colaborado com os gaúchos na Revolução Federalista, ocorrida no final do século XIX.

Houve uma tímida sessão na Cinemateca, para meia dúzia de gatos-pingados, aliada à total ausência de qualquer promoção ou divulgação. Nesse terreno, ainda temos muito o que aprender com nossos colegas paulistas, cariocas, mineiros, gaúchos e baianos.

O paulista Paulo Betti começou a filmar Cafundó esses dias no Paraná, tendo à frente do elenco o baiano Lázaro Ramos, e já promoveu uma intensa campanha de divulgação para a produção, ainda embrionária. Carandiru, de Hector Babenco, consumiu uma boa fatia do seu orçamento de 10 milhões de reais na divulgação, com resultados excelentes. Mesmo produções que naufragaram estrondosamente nas bilheterias, como A Paixão de Jacobina, de Fábio Barreto, tiveram seus esforços de comunicação, ou o desastre seria ainda pior. Não precisamos virar gatos de Ipanema, mas já está mais do que na hora de deixarmos de ser bichos-do-mato.

Luigi Poniwass  (luigi@oestadodoparana.com.br) é editor do Almanaque em O Estado

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