A voz do povo

?A voz do povo é a voz de Deus?? Em muitas circunstâncias não parece verdade. Muito menos nos embates eleitorais num país chamado Brasil. Mesmo antes do início oficial da campanha eleitoral e quando pré-candidatos fazem proselitismo político ao arrepio da legislação vigente, certamente o que no seio do povo já se diz deles nada tem a ver com a voz divina.

Lula aparece em todas as pesquisas de opinião pública em primeiro lugar. Seria esta, que é a voz majoritária do povo, a voz de Deus? Ou seria a voz de Deus quando dizem que o presidente ?não trabalha, só viaja e bebe muito?, ataque que Lula considerou ?rasteiro?, e que veio do candidato a vice de Alckmin, o senador José Jorge. Melhor deixar Deus fora desta, não invocando seu nome em vão. Nem em vão invocando as opiniões do povo, pois estas são permeáveis a certos boatos e a certos fatos que, mesmo não provados, têm foros de verdades.

A verdade é que Lula tem sabido falar a linguagem do povo e seus suspeitados pecados o eleitorado tende a perdoar, uma vez que o presidente se posta do lado dos mais carentes, mesmo que seja da boca para fora. ?Todo dia aparece alguém para me agredir, possivelmente porque essas pessoas estão pensando assim: puxa vida, nós estamos governando o Brasil desde que Cabral pôs os pés aqui e não conseguimos fazer (nada). Por que esse metalúrgico está fazendo??, disse Lula em discurso pronunciado em Olinda (PE). Falou numa cerimônia de liberação de R$ 74,9 milhões do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social para melhoria de moradias de 5.473 famílias. Falou uma verdade, pois as elites que dirigiram este país desde que foi descoberto e só agora se vêm substituídas por um operário, nunca conseguiram melhorias substanciais que significassem o começo do fim da miséria da maioria dos brasileiros. Mas estaria Lula conseguindo isso?

No mais, para chancelar o jogo rasteiro do qual não fogem nem situacionistas nem oposicionistas, o presidente valeu-se de seu cargo para fazer proselitismo político, o que não é recomendável num pleito democrático e é contra a lei. Poder-se-ia concluir, lamentando, que tanto de parte do situacionismo, quanto da oposição, há jogo rasteiro e o povo, desorientado e frustrado por tantos governos ineptos, acaba seduzido pela linguagem demagógica que parece indicar intenções de promover, afinal, sua salvação.

Temos de concordar com o presidente do TSE, ministro Marco Aurélio de Mello, que condenou a reeleição porque não estamos culturalmente preparados e legalmente estruturados para impedir debates tão baixos e lamentáveis. E ações que significam o abuso do poder já conquistado para buscar, nos votos da Nação, a permanência no comando do país.

Quando acusam Lula de preguiçoso e sempre desejoso de voar, não estão atacando só um candidato, mas o presidente da República, que, como tal e pelo que representa ou deveria representar, merece respeito. Quando o candidato à reeleição, por sua vez, usa e abusa de linguagem demagógica e põe a serviço de sua candidatura os poderes de chefe da Nação, merece a reprimenda da Justiça Eleitoral e as punições de lei.

Ao povo só resta desacreditar que sua voz é a voz de Deus e assumir a responsabilidade pelo que dirá nas urnas, rezando para não eleger o pior.

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