A temporada de caça

Geralmente, ia-se à África para caçar. Lula foi, mas vai começar a temporada de caça quando voltar, oportunidade em que promete a reforma do ministério para acomodar o aliado, mas ainda alijado PMDB, e para pôr nos eixos o governo, muito grande para o pouco que tem conseguido fazer. A motivação política, ou seja, a absorção do PMDB com sua premiação com cargos, é confessa. A governabilidade serve de escusa, embora o cheiro apetitoso que vem da cozinha do poder já seja suficiente, para muitos políticos das chamadas bases, para mantê-las fiéis, nem que não ganhem churrasco.

Não vamos chegar ao raciocínio absurdo de dizer que um ministério vale pouco. Pode valer pouco, alguma coisa ou muito, dependendo de suas atribuições e de quem o ocupe. E das forças que o sustentem. O presidente do PT, José Genoino, incluiu entre os ministros decapitáveis os petistas por ele comandados e correligionários de Lula. Disse-o porque se espalhava por aí, em legítima defesa, que a estrela do partido serviria de uma espécie de habeas corpus. Um dos ministros a se arrepiar foi Emília Fernandes, sobre quem se sabia ser petista e gaúcha. Talvez um pouco mais. Ela é secretária especial de Políticas da Mulher, ministra com outro nome, e não se deixa abalar pelos boatos de que está na linha de tiro. Enumera seus feitos, embora pouca gente saiba que existe e muito menos o que faz. Emília instalou o Conselho Nacional da Mulher, tem agendado um encontro com representantes de delegacias da Mulher e dos conselhos estaduais e municipais da Mulher para dezembro. Ela concorda que o governo deve se compor com outros partidos, mas defende reserva de algumas áreas e cargos para o PT.

Sem menosprezo às atividades da ministra, poucos brasileiros sabem que ela existe e temos dúvida sobre se a sua atuação justifica a existência de um ministério, mesmo que com o nome de secretaria. O ministro Olívio Dutra, das Cidades, aquele que perdeu as eleições no Rio Grande do Sul e é mais conhecido pelo seu bigode do que pela eloqüência e idéias que o traspassam, sustenta a tese de que a reforma do ministério deve olhar o governo como um todo e não apenas visar o PT. Tem razão, pois se ser petista não é galardéu neste governo, também não é pinta da testa chamando a atenção para ser alvo do tiro da caça. Aliás, deveria ser galardéu, pois embora se recheando de outros partidos e forças, algumas tradicionais adversárias, não há como negar que a vitória nas urnas foi do PT. Do PT porque de Lula, e embora haja quem se julgue premiável por tê-lo ajudado, a verdade é que essa ajuda nunca foi decisiva. Este é um governo de Lula e, sem ele, nem toda a turma que o cerca teria conseguido resultados eleitorais expressivos.

A reforma do ministério se dá cedo, extemporaneamente, pois ideal seria que a caça e as mudanças acontecessem quando o governo estivesse funcionando há mais tempo e a equipe experimentada. E capaz de ser julgada. A maioria ainda nada fez para merecer aplausos nem frituras.

Talvez o fato de que nada ou pouco fez, seja motivo suficiente para a caça. E motivo também é a multiplicidade de cargos semelhantes, que agora se fundem. Na área social, por exemplo, meia dúzia está se transformando no emissor do Cartão Família, o que é mais econômico, embora possa significar que doravante pouco se fará com menos documentos. Havia programas sociais demais para miséria demais e instrumentos de combate de menos.

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