A soja transgênica

Em quase todo o mundo, come-se cachorro-quente. Todos nós sabemos que é um sanduíche feito com salsichas, pão, mostarda, maionese e outros quitutes. Em certas partes do Oriente, notadamente na China, come-se também cachorro quente, mas é o cachorro mesmo, aquele animal que por aqui pensam que é só de estimação e guarda e que serve para fazer companhia para as crianças e os velhinhos. Inimaginável hoje, entre nós ocidentais, entrar num açougue e pedir um cachorro de raça ou mesmo um guaipeca de rua para assar no espeto, como se faz, por exemplo, com a carne de gado ou com a de porco, esta preferentemente no rolete. Os hábitos alimentares mudam com o tempo e se condicionam às condições mesológicas. Come-se, muitas vezes, o disponível, a menos que se aceite morrer de fome.

Inventaram agora a soja transgênica, já muito consumida no mundo. A engenharia genética e a dinheirama da multinacional Monsanto modificaram o grão, tornando-o dizem – mais produtivo, alimentício e outros plus que a soja que a natureza nos deu, sem a intervenção da mão e da ciência do homem, não tem.

Surgiu uma longa e intrincada batalha, que tem diversos aspectos. Há os que consideram a soja transgênica um alimento perigoso. Também os que, por nacionalismo ou outras ideologias, não querem encher mais as burras da Monsanto, que detém a patente da transgenia. A engenharia genética caminha a passos largos e já se busca o seu uso na medicina, na procriação e mesmo na reprodução idêntica de seres vivos. Por que não poderia influir na melhoria da soja? Ou piorá-la, como alegam os que a combatem.

O Brasil está no meio desse debate. Governadores e agricultores são pela soja transgênica e até a plantam e comercializam. Em número menor, chefes de executivos são contra e a proíbem, apesar de existir uma medida provisória permissiva que, na hierarquia das leis, está acima das legislações estaduais. Existe um certo TAC – termo de ajustamento de conduta, declaração obrigatória para quem deseja produzir soja transgênica na safra corrente e sua apresentação inibe qualquer proibição, como a estadual, que existe no Paraná.

Ao que tudo indica, está-se transformando um assunto, que deveria ser científico, de produção agrícola e alimentar, numa questão política e mesmo ideológica, além de um conflito entre esferas de poderes.

Soja transgênica só pode ser proibida se provado que faz mal. Se não, parece-nos que deve ser permitida. O cachorro quente dos chineses não faz mal e, se não o comemos, não é por motivos de saúde, mas por falta de costume, por cultura ou preconceitos.

Existem, neste mundo, variedades de alimentos que a natureza oferece, alguns modificados pela mão do homem ou condições mesológicas, que são consumidos e alimentam. E só serão proibidos se um dia a ciência provar que são maléficos. O assunto tem de ser resolvido nos laboratórios, pela ciência que poderá provar os inconvenientes da transgenia. Ou suas enormes vantagens. Se vantagens, que bom, pois o mundo precisa de comida. Se faz mal, que azar, e a proibição vai dispensar até discursos e comícios. Decretos e medidas provisórias não refrescam a questão.

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