A segunda ponte

Os recentes entendimentos entre os presidentes do Brasil e do Paraguai indicam que a luta da comunidade da fronteira pela construção de uma segunda ponte unindo Foz do Iguaçu e o Paraguai está próxima da vitória. É, todavia, preocupante que não se tenha atentado para as conseqüências que a modalidade de concepção e realização da obra terá para a viabilização da integração continental, por via ferroviária, assegurando ao Paraná o acesso ao Pacífico e o escoamento da produção paraguaia por Paranaguá.

Para chegarmos ao Pacífico por ferrovia, partindo de Foz do Iguaçu, precisamos construí-la até Resistencia, na Argentina, distante 580 km. Depois de Resistencia, há ligação ferroviária até os portos de Antofagasta e Mejillones del Sur, no Chile. Até Resistencia, precisaremos fazer três transposições fluviais: do Rio Paraná entre Foz do Iguaçu e o Paraguai (Ciudad del Este ou Hernandárias), do Rio Paraná entre Encarnación no Paraguai e Posadas na Argentina e do Rio Paraná ou do Rio Paraguai na região de Corrientes e Resistencia, na Argentina.

O caminho ao Pacífico exige, portanto, três pontes, a primeira das quais é a que se encontra em vias de ser construída entre Foz do Iguaçu e o Paraguai e que, por isso, é preciso que não seja apenas rodoviária, mas rodoferroviária. A segunda ponte na direção do Pacífico já está construída e é rodoferroviária, unindo Encarnación, no Paraguai, e Posadas, na Argentina, a 250 km de Foz do Iguaçu. Assim, se incorporarmos o modal ferroviário ao projeto de construção da segunda ponte entre Foz do Iguaçu e o Paraguai, restará apenas a construção da terceira ponte, na região de Corrientes e Resistencia, na Argentina. Em qualquer circunstância, a construção de uma segunda ponte entre o Paraná e o Paraguai, incluindo o modal ferroviário, permitirá a cristalização de Paranaguá como destino da produção do Paraguai e do nordeste da Argentina, cujo destino preferencial está sendo reorientado para Buenos Aires.

A proposta política da integração latino-americana mobilizou corajosas gerações de nossos antepassados, simbolizadas em Bolivar e Che Guevara. A integração sul-americana é componente significativo da integração da América Latina. A nós e aos nossos atuais dirigentes políticos – Lula, Kirchner, Nicanor Duarte, Chávez, Ricardo Lagos – cabe levar adiante, no quadro dos desafios da globalização, a integração dos nossos povos.

Embora a integração regional não se restrinja à sua dimensão econômica, esta é o seu motor. E a integração econômica regional não é contraposta à nossa inserção na economia internacional. Antes, pelo contrário, nos confere condições superiores de competitividade, do que são exemplos os vários blocos econômicos que disputam protagonismo no comércio mundial.

Nisso reside o significado estratégico da ferrovia do Mercosul, que não apenas será um instrumento importante para a construção da complementaridade entre nossas economias, integrando os nossos esforços produtivos, como aumentará o nosso poder no comércio internacional.

Por isso, as decisões sobre a construção da segunda ponte entre Foz do Iguaçu e o Paraguai devem considerar o quadro mais amplo da necessidade da ferrovia no processo da integração sul-americana, além de reforçar a competitividade dos produtos gerados na região da tríplice fronteira. Assim estaremos à altura da herança de nossos antepassados e dos desafios do nosso tempo, agindo de forma a que possamos ser merecedores do agradecimento das gerações futuras.

Samuel Gomes é diretor administrativo, financeiro e jurídico da Ferroeste.

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