A revolução silenciosa

O advogado ponta-grossense, posto que bacharel em Direto pela UEPG e aqui sempre exerceu a advocacia, Roberto Antonio Busato, foi eleito, por unanimidade, presidente do Conselho Federal da OAB, para o triênio 2004/2007. Candidato único, ele recebeu os votos de todas as 27 Seccionais da OAB nos Estados. A posse do novo presidente ocorre neste dia 1.º de fevereiro.

Migrante, radicado em Ponta Grossa desde 1961, com 49 anos de idade, é o mais jovem advogado a chegar à Presidência Nacional da OAB. Foi, ainda, conselheiro estadual da OAB do Paraná e conselheiro federal por três vezes consecutivas, até chegar a tesoureiro e vice-presidente da entidade. Foi também eleito vice-presidente da Union Ibero-Americana de Colégios y Agrupaciones de Abogados (UIBA), com sede em Madri, para a gestão 2002/2006.

E tudo isto todos nós já sabemos, enfim, todos os principais veículos de imprensa noticiaram com ênfase o ocorrido. Os Estados, as Folhas, as Gazetas, o Globo e a Globo, o do Comércio e tantos outros. As manchetes pulularam: Advogado do Sul vai presidir a maior entidade civil do País; Paranaense será o primeiro advogado do Sul a assumir a presidência da OAB nacional; o que, entretanto, não pode passar desapercebido é a importância do que está acontecendo no cenário jurídico neste momento, que talvez seja a maior revolução silenciosa da história dos operadores do Direito.

Primeiramente, uma modesta Faculdade de Direito do interior de Minas Gerais, distante dos barões do ensino jurídico e das tradições das múltiplas arcadas, teve nomeado um seu ex-aluno, em data recente, para o cargo de ministro do STJ.

Depois o presidente Lula nomeou nomes que não eram, também, oriundos das mais tradicionais escolas de Direito, como soe anteriormente sistematicamente acontecer. mas que demonstraram pelo seu compromisso com a Justiça o mérito para ocuparem tais cargos.

Sinais dos tempos. Sinais que agora se consagram com a eleição de um migrante no Sul do País, que deixou Santa Catarina em tenra idade e migrou para o planalto de Ponta Grossa, onde formado pela escola de Direito local, dedicou-se incansável e exclusivamente à advocacia, sempre atento às cousas e interesses da classe.

Este mesmo jovem, o mais jovem dentre todos os já eleitos Presidente da OAB – Conselho Federal, também é o primeiro eleito do interior. Surgiu do interior, da região de vocação agrícola, da modesta escola de Direito, que como ele quebra um tabu, um mito ilógico, irracional e desnecessário, que sempre maculou a nossa história, de as grandes metrópoles ditarem a música e o ritmo do cenário nacional.

Agora aquele advogado do interior, que labutou e labuta durante anos, distante do fausto das capitais, também tem no seu advogado Roberto Antonio Busato, a sua força de expressão e sensibilidade, para se fazer ouvir no cenário nacional, não só no Conselho Federal da OAB, mas em todos os Tribunais Superiores; não só no Poder Judiciário, mas também nos demais Poderes da União e no poder da cidadania que é a imprensa nacional.

Busato eleito é a consagração de um momento histórico de um Pais cuja Nação está em mudança. Esta é a verdadeira revolução silenciosa, a inclusão social do interior do País, daqueles que pensam e passam a ter vez e voz; que tem a sensibilidade, o caráter, a dignidade e a dedicação do homem do interior, que constrói e sempre construiu a grandeza desta Nação.

Parabéns Ponta Grossa, maior e mais importante entrocamento rodo-ferroviário do Sul do País, entrocamento de encontros de homens no Peabiru há séculos, proporcionando o desbravamento e a integração, celeiro de idéias, ideais e sonhos. Terra onde se sonha e se edifica, construindo projetos e formando homens que chegam ao honroso e importante cargo da Presidência da OAB nacional.

José Sebastião Fagundes Cunha

é da Academia de Letras dos Campos Gerais, doutor em Direito pela UFPR, juiz de Direito em Ponta Grossa-PR.

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