A revolução das bengalas

Nossa Constituição Federal diz: ?Todos são iguais perante a lei?. Porém, não é bem assim, vide a última revisão de aposentadoria, onde os já sofridos aposentados com um salário mínimo passaram a receber 16,6% de aumento, enquanto os outros ?marajás? do INSS que recebem acima desse valor ficaram com uns minguados 5%.

Uma geração inteira de trabalhadores aposentados vê, ano a ano, a proximidade de um fim de vida miserável, na qual a promessa de uma velhice independente fica cada vez mais distante. Em um País onde a velhice segura, em termos financeiros, só privilegia quem trabalhou para o governo ? ou melhor, quem em sua grande maioria participou desta elite privilegiada ?, é um soco na cara assistir o nosso poder financeiro sumir exponencialmente, a bel prazer de quem decide o quanto o ?traste velho? deverá receber.

Esta grande massa de ex-trabalhadores que dedicou os melhores anos de suas vidas trabalhando para dar a seus familiares e à nação o melhor que podiam, vê hoje que anos de labuta, sofrimento e responsabilidade não resultaram em nada. Em se tratando de reconhecimento, o País só os vê como um problema de saúde e gastadores do dinheiro que algum funcionário público poderia muito bem utilizar em seu próprio proveito. Esta é hoje, como muitas outras, uma das vergonhas nacionais.

A expectativa de vida está aumentando e as famílias estão tendo menos filhos. Muitas em razão da questão financeira. Além disso, não temos escolas, saúde e nem segurança. Filhos já foram um dia sinônimos de amparo. Hoje não são mais.

Seria bom que nosso presidente, que diz que governa este País, lembrasse do episódio envolvendo um ex-ministro seu que levou uma bengalada, quando for vetar novamente o aumento a todos os aposentados aprovado pela Câmara, equiparando todos os que recebem o benefício com um ou mais salários mínimos. Pois, se uma bengalada ajudou a derrubar um ministro, será muito mais fácil, milhões de bengaladas não reelegerem um presidente.

Sylvia Romano é advogada trabalhista, em São Paulo.

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