A questão do emprego

Emprego é, sempre foi e continuará sendo uma questão de mercado. Mercado que tem procura, ou seja, maior ou menor número de pessoas em busca de trabalho. Mercado de oferta, ou seja, maior ou menor número de postos de trabalho à disposição. E mercado no sentido de preço, ou seja, quanto empregadores estão dispostos ou podem pagar e quanto os que buscam trabalho estão dispostos a receber, para aceitar os contratos laborais. Quando a situação é como a nossa, do Brasil de hoje, podemos dizer que o mercado vai de mal a pior em todos os seus aspectos. O mercado de oferta está retraído. Melhor dizendo, encolhendo. Existem poucos empregos disponíveis, em relação ao número de trabalhadores que deles necessitam, e esse número vem diminuindo a ponto de mostrar recordes de desemprego.

A oferta de mão-de-obra disponível é enorme e tende a crescer dia a dia. No que respeita ao preço do trabalho, remuneração, tende a diminuir cada vez mais, na medida em que há mais gente precisando trabalhar do que empregos. E essa necessidade faz com que sejam aceitos salários cada vez menores. Até vis. Isto quando existam disponíveis, o que tem sido raro. O trabalhador que consegue emprego tem sido compelido a aceitar salários ínfimos, às vezes aviltantes. Culpa dos empregadores? Não, porque as empresas passam por séria crise. Há três anos a produtividade não cresce e a produção dá um suspiro aqui e ali, mas no geral vai de mal a pior. E, a não ser no campo das exportações e um tanto na agricultura, não cresce e, por isso, não oferece mais empregos. Muito menos empregos bem remunerados.

O trabalhador muitas vezes perde o emprego e, ao conseguir outro ou o mesmo, em período permitido pela lei, é contratado ganhando bem menos do que percebia anteriormente. A massa salarial está caindo. Em 2003, os reajustes salariais negociados entre sindicatos de trabalhadores e empresas foram os piores em oito anos. De cada dez acordos fechados, quase seis não repuseram sequer as perdas causadas pela inflação.

O desemprego e os empregados ganhando menos significa menor consumo, menos compras, menos encomendas. E aí se forma um penoso círculo vicioso, pois as empresas, sem compradores, encolhem nos seus negócios e nos seus quadros de empregados. Também reduzem suas folhas de pagamento. Estamos caminhando para trás, apesar da promessa de 10 milhões de novos empregos, do milagre do desenvolvimento, do projeto do primeiro emprego.

Este projeto do primeiro emprego foi um fracasso vexatório. O governo criou um plano que daria, aos jovens que precisam do primeiro emprego, a sua oportunidade. O projeto dá estímulos às empresas que empregam esses jovens de primeiro emprego. Passaram-se oito meses e o resultado foi o seguinte: só um jovem foi empregado. E o projeto é nacional. Teria sido bem pensado e discutido e os estímulos suficientemente pesados? Não, com certeza. Foi um fracasso tão grande que evidencia inexperiência de quem o engendrou. E tão vexatório que, se seus autores tivessem vergonha, pediriam demissão de seus cargos.

Diante desse quadro em que há promessas de geração de empregos, mas a realidade mostra mais desemprego, salários mais baixos, acordos salariais desvantajosos para os trabalhadores, a chamada reforma trabalhista, que envolve reforma sindical, deve ser muito bem pensada e pesada. Que não se cometam novos erros, pois eles podem custar o já escasso pão na mesa dos trabalhadores.

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